sábado, 31 de julho de 2010

A Psiquiatria e a Escola: aproximações

A Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul através do Departamento de Psiquiatria da Infância e da Adolescência, está promovendo em 2010 a 23ª edição do curso "A Psiquiatria e a Escola: aproximações", dirigido aos profissionais da área da educação. Segundo a entidade o com enfoque do encontro é eminentemente prático e serão realizados aos sábados, no Centro de Eventos da AMRIGS (Av. Ipiranga, 5311 – Porto Alegre – RS), das 9h às 11h45min. Confira a programação abaixo:

Programação 2º Módulo

14 de agosto de 2010
09h – 10h15min - Drogadição na escola
Dr. Carlos Alberto Iglesias Salgado
Intervalo
10h30min -11h45min - Ansiedade e suas manifestações na infância e adolescência
Dr. Luciano Rassier Isolan

11 de setembro de 2010

09h – 10h15min - O papel do sexo e da sexualidade no universo do adolescente atual
Dr. Fábio Brodacz
Intervalo
10h30min -11h45min - Depressão e suicídio na infância e adolescência
Dr. Emilio Salle

Informações e inscrições podem ser realizadas de segunda a sexta-feira, das 13h às 21h pelos telefones (51) 3024 4846 / 8116.5896 ou pelo e-mail: aprs@aprs.org.br
O valor para cada módulo é de R$ 30,00.

I Seminário de Ações Afirmativas UFRGS


A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) vem desde 2008, democratizando o acesso ao ensino publico superior. Este processo visa a ampliação de todos os cursos de graduação da UFRGS, além de promover um espaço plural, resultado de diferentes trajetórias; garantir a permanência dos alunos ingressantes por esse sistema, através de programas de bolsas, ampliação dos restaurantes universitários e moradia estudantil; aumento do acervo bibliográfico, entre outras ações.
O Programa de Ações Afirmativas da UFRGS soma-se às mais de 30 universidades brasileiras que se tornam mais democráticas e multiculturais e visando a promoção e a abertura além da sensibilização dos espaços acadêmicos e da sociedade em geral para as discussões acerca das questões que envolvem a implementação de ações afirmativas dentro da universidade, a fim de que se possa pensar em alternativas e intercambiar experiências a partir dos relatos de outras universidades que também implementaram ações afirmativas em seu sistema de ensino é que a instituição promove através da Comissão de Acompanhamento dos Alunos do Programa de Ações Afirmativas em parceira com a Pró-Reitoria de Graduação, Pró-Reitoria de Extensão e Secretaria de Assistência Estudantil, o I Seminário de Ações Afirmativas da UFRGS.
Maiores informações em http://www.prograd.ufrgs.br/prograd-1/acoes-afirmativas/i-seminario ou clique no banner ao lado.
O Seminário ocorrerá entre os dias 18 e 20 de agosto em Porto Alegre.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Atualização do Portal Falando de História

O Portal Falando de História está com novidades, a primeira é o seu layout, passando por novas páginas e seções. Algumas funcionalidades ainda não estão totalmente prontas, mas até o final de agosto o sitio estará totalmente no ar!
Confira as novidades em www.falandodehistoria.com.br

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Olimpíada Nacional de História


A 2ª Olimpíada Nacional de História do Brasil está com inscrições abertas até o dia 6 de agosto. Podem participar estudantes matriculados no ensino médio ou nos dois últimos anos do ensino fundamental.
As equipes devem ser compostas por três estudantes e um professor de história que enfrentarão cinco fases on-line e uma presencial. A primeira fase está agendada para o dia 19 de agosto, nascimento do jornalista e historiador Joaquim Nabuco e oficializada como o Dia Nacional do Historiador.
As demais fases serão nos dias 26 de agosto, 2, 9 e 16 de setembro e 23 e 24 de outubro.
A taxa de inscrição, de valor único para toda a equipe, é de R$ 15 para os grupos de escolas públicas e R$ 35 para as equipes das escolas particulares.
O formulário de inscrição e o boleto de pagamento estão disponíveis no site do Museu Exploratório de Ciências da Universidade Estadual de Campinas (MC-Unicamp): www.mc.unicamp.br/2-olimpiada

Texto Extraído do Blog História Pensante

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Apreciação da Faculdade de Educação da UFRGS sobre o Lições do Rio Grande

Em um momento em que chega às escolas da rede estadual do Rio Grande do Sul um conjunto de materiais didáticos, intitulado Lições do Rio Grande: referencial curricular para as escolas estaduais, é oportuna nossa manifestação com o objetivo de fazer algumas considerações sobre possibilidades de efetividade de uma ação inserida em política do campo curricular cuja finalidade explícita é a melhoria das condições de qualidade da Educação Básica pública estadual. Dada a incidência de nosso trabalho na formação de professores, fazemos alguns registros que permitam uma abertura de discussão sobre conexões entre o/um referencial curricular e certas condições do trabalho docente.

Cabe esclarecer que não entraremos em análises do conteúdo dos cadernos, em suas áreas e disciplinas. Nossa compreensão é de que o material possui méritos em sua composição e conteúdo (seleção de tópicos, forma de abordagem, uso de bibliografia de referência), assim como acontece com outros recursos pedagógicos à disposição das escolas públicas brasileiras na atualidade.




Primeiro registro: autonomia da escola
Na introdução de todos os cadernos do Lições do Rio Grande, é afirmado que “A autonomia pedagógica da escola consiste na liberdade de escolher o método de ensino, em sua livre opção didático-metodológica, mas não no direito de não ensinar, de não levar os alunos ao desenvolvimento daquelas habilidades e competências cognitivas ou de não abordar aqueles conteúdos curriculares”. O reenquadramento da margem de autonomia das escolas é reconhecido pela Secretaria de Estado da Educação. Os conteúdos curriculares, sabemos, estão articulados a teorias, metodologias e práticas, o que requer um nível de discernimento e autonomia dos educadores que não se restringe a meras técnicas de trabalho. As políticas curriculares, para serem implementadas, dependem de adesão por parte dos que vão implementá-las – neste caso, dirigentes escolares e professores. Lembremos que estamos tratando de uma política que chega às escolas encontrando um legado que não será suplantado apenas pela afirmação de que não se negocia a adoção dos conteúdos propostos. Nossa defesa é a da autonomia da escola, mas, além disso, queremos sublinhar a concepção ingênua de extinguir certa autonomia e objetivar instaurar outra por uma declaração e pela disponibilização de cadernos, estando ausentes certas condições indispensáveis para a efetividade da política.


Segundo registro: referenciais curriculares ou propostas pedagógicas e condições do trabalho pedagógico
Valorização dos profissionais da educação, insumos pedagógicos e adequada infra-estrutura física das escolas estão entre as condições de um trabalho pedagógico eficaz. A garantia destes quesitos exige gastos públicos, os quais têm estado muito aquém do necessário para recuperar déficits de condições de qualidade da educação escolar. A qualidade da educação tem ficado à mercê de ajustes fiscais do estado do Rio Grande do Sul. As escolas recebem um repasse de recursos do governo estadual que lhes disponibiliza, em média, 30 reais por aluno por ano. Esse é o principal recurso com o qual conta a maioria das escolas, o que evidencia as limitadíssimas possibilidades de prover as escolas de certos insumos para um trabalho pedagógico de acordo com os requisitos de qualidade na contemporaneidade. Outro fator é que o valor mínimo de remuneração de um professor da rede pública estadual, para 20h, é de R$ 510,00, um dos menores do país. Neste contexto, é importante lembrar que a Constituição Estadual determina que sejam gastos 35% da receita líquida de impostos do governo estadual na manutenção e desenvolvimento do ensino. Nos últimos anos, este percentual não tem sido aplicado, com perdas, em 2008 e 2009, superiores a um bilhão de reais em cada ano. A rede estadual foi encolhendo nos últimos anos: de 1996 para 2008 passou de um atendimento de 65% para 57% da matrícula na Educação Básica pública gaúcha. Com a reorganização da rede estadual no governo atual, foram fechadas escolas, foi incentivada a municipalização da pré-escola, foi aumentado o número de alunos por turma, foi reorganizada a distribuição de funções no âmbito escolar. O que tem se mostrado visível é a ligação desses ajustes com as razões do ajuste fiscal do estado, permanece invisível a maior disponibilidade de recursos para a rede estadual, bem como as razões pedagógicas ou de eficácia das ações públicas nestas ações. Os referenciais curriculares chegam às escolas numa conjuntura que dissocia o que é esperado do trabalho docente para promover certas aprendizagens e o que o governo estadual está disposto a investir na qualificação da educação e na valorização dos profissionais da educação estadual.


Terceiro registro: referenciais curriculares e políticas de formação inicial e continuada de professores
A formação inicial e continuada de professores é também requisito da qualidade da educação escolar. Sem entrar no mérito do conteúdo de diferentes diretrizes ou referenciais, nos parece urgente a abertura de diálogo para discutir política(s) de formação de professores. Propomos um diálogo interinstitucional e intergovernamental, incluindo, pelo menos, governo estadual, governos municipais, universidades e demais instituições formadoras de professores, entidades representativas das instituições formadoras de profissionais da educação, profissionais da educação e instâncias que os representam, conselhos escolares, conselhos de educação. O sucesso da implementação de políticas curriculares está estreitamente ligado a políticas que incidam na formação docente, inicial e continuada, bem como na disponibilização de outras condições, das quais fazem parte certos padrões básicos de qualidade da educação. Um conjunto de lições, isolado, não dá conta de iniciar uma inflexão expressiva no trabalho docente. É nessa circunstância que propomos o debate e que convocamos o compromisso público dos candidatos ao governo do estado para com essa futura intervenção coletiva.

Comissão de sistematização: Nalu Farenzena, Juca Gil, Paola Zordan, Marise Amaral, Nestor Kaercher
Diretor da Faculdade de Educação: Johannes Doll
Fonte CPERS Sindicato
Extraído de: http://www.cpers.org.br/index.php?&menu=1&cd_noticia=2518

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Um pouco sobre o abandono ferroviário no Brasil

Nas vésperas da Copa do Mundo no Brasil, que será realizada em 2014 e nas Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016 ( e que alías não vejo atualmente nenhuma fala mais relevante a respeito da melhoria de infra-estutura para a realização deste evento por parte da grande imprensa) , é que surgem debates em torno de melhoria da parte de moblidade urbana e viária. Sabemos que o modal do Brasil é o transporte rodoviário, que há muito tempo pede socorro como em São Paulo, ou mesmo no trecho entre Porto Alegre-Canoas da BR 116, por exemplo. As outras alternativas, além do modal rodoviário, como o transporte aéreo também possuí graves problemas, já que este setor vem tendo ao nosso ver um crescimento de forma muito acelerada e pouco planejada. Isso sem falar dos transportes hidroviários (quase inexistente no Brasil) e no modal ferroviário que há muito tempo vem sendo abandonado. Uma das alternativas para estancar o estrangulamento de nossas rodovias é a volta dos trens de passageiros, como explica Hélio Suevo, autor do livro "As Estradas de Ferro do Rio de Janeiro"



Confira as reportagens de TV Redcord (Série "Fora dos Trilhos"!) veiculadas no Jornal da Record;











segunda-feira, 12 de julho de 2010

Novidades Blog e Portal Falando de História

Como havia comunicado o Blog e Portal Falando de História nesta semana estariam com novidades! A primeira delas é a interligação de tanto do Portal no Blog, a partir de hoje contará com barra de links de páginas do Portal Falando de História.A segunda novidade é o novo layout do Portal Falando de História. Algumas páginas ainda estão em manutenção, mas em breve o Portal estará com todas as suas funcionalidades completas.

domingo, 11 de julho de 2010

Há 30 anos, um poeta deixava saudades..

Com grande genialidade, Vinicius de Moraes trazia para a MPB, canções inesquecíveis como Garota de Ipanema e textos como o Soneto da Fidadelidade, o "Poetinha" como era conhecido influenciou gerações e fez parte do movimento de renovação musical do Brasil na década de 1950, a chamada "Bossa Nova".
Que falta faz pessoas como Vinicius de Moraes!!! Que saudades de sua genial poesia. Muito Obrigado Vinicius.
Confiram a reportagem falando sobre os 30 anos da morte de Vinicius de Moraes veículada da Band News

Fonte do vídeo: Terra Tv

Palavras de Ernesto Che Guevara e Salvador Allende

Gostaria de compartilhar o vídeo que eu tive acesso no Youtube. A minha admiração a este homem (Ernesto Che Guevara) vem aumentando a medida que leio mais o seu diário que foi publicado em 1968. Independente de posição política, Guevara foi um símbolo de honestidade em seus propósitos.
De forma clara, humilde tinha um espírito que cativava a todos pela sua sapiência e eloquencia de seu discurso.
Recomendo a leitura do seu diário, onde conta a sua passagem na Bolívia até a sua morte.
Realmente era um ser com propósitos além de seu tempo e homens como Guevara, são raros. Assim como Mário Quintana, Érico Verissimo (guardadas os seus contextos), mas o que pretendo dizer é que devemos nutrir nossas almas com mensagens vivicantes de personalidades que tinham e dizem muito, ao contrário de figuras do cenário de celebridades que falam demais por não terem nada a dizer como já afirmava Renato Russo.
Ernesto Che Guevara, um idealista que tinha muito a dizer.
Prestem atenção em seu discurso em Cuba e percebam a sabedoria em suas palavras.


Dedico este post ao meu querido amigo Mário Sérgio Leandro, a quem sinto saudades e que sempre esteve ao meu lado nesta caminhada.
Para finalizar, deixo o discurso de um outro homem notável da América; Salvador Allende (presidente do Chile deposto e morto em 1973). Neste discurso realizado no México Allende denunciava situação social da América.


Diante de tanta miséria, seja econômica ou intelectual deste páis só me resta a reflexão e o sonho da transformção.
Também dedico este post a um amigo e colega de lida profissional, que acaba de ingressar no curso de História, Henrique Rodrigues de Siqueira e que ao emprestar o Diário de Che Guevara tem me ajudado a refletir um poujco mais sobre tudo isto que chamamos de vida e suas mazelas.

Portal Falando de História, temporariamente fora do ar

O Portal Falando de História ficará brevemente fora do ar, retornando até amanhã. Motivo: manutenção no site, como já havia anunciado anteriormente

Reformulação Portal Falando de História

O Portal Falando de História passará por mais uma reformulação. A idéia é interligar cada vez mais o Portal e o Blog Falando de História. A partir do novo site alguns links do Portal deverão estar no blog!!!
Aguardem! Trarei novidades a seguir!!!

Uma Homenagem aos Grandes Historiadoes do Brasil

A Historiografia Brasileira posui grandes pesquisadores, homens que no início do século passado, foram para o exterior e desbravaram o campo da História. Sem as suas contribuições, o Brasil não estaria inserido no campo da pesquisa histórica. Este post é uma singela, mas reconhecida homenagem a Sergio Buarque de Holanda, Gilberto Freyre, Nelson Werneck Sodré, Caio Prado Jr. entre outros.





Para refletir...

O vídeo abaixo, pra mim retrata muito bem a situação da educação neste país. Apesar de grandes avanços, sejam de recursos financeiros. Mas o trabalho docente ainda tem muito a avançar, e muitos destes aspectos são mencionados neste clip do cantor Gabriel, o Pensador. Fica o vídeo para reflexão.

Conheça o Blog História Pensante

Há muito material na internet! Mas o que se questiona é a qualidade. Neste domingo, acessei o Blog História Pensante, do qual está seguindo o Blog Falando de História para minha alegria, e achei muito interessante o layout do blog e o seu conteúdo. Vale a pena conferir!!! O endereço do Blog é o seguointe: http://historiapensante.blogspot.com/
Fica aí a dica!

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Homenagem à Naira Vasconcellos

A palestra sobre os 30 anos da Lei da Anistia, com Cláudio Elmir, era apenas um dos motivos para reunir alunos, professores, ex-docentes e egressos do curso de História da ULBRA Canoas na noite de 29 de junho. O objetivo principal ainda era surpresa para uma docente: Naira Vasconcellos.

No dia de seu aniversário, marcando o início de sua aposentadoria, a professora Naira recebeu homenagem pelos 20 anos de dedicação ao curso. Fundadora da graduação na ULBRA em 1990, Naira tem uma trajetória de solidariedade, amizade e carinho com todos que passaram pelo curso, seja como aluno, professor ou funcionário. “Ela deixa marcas em todos nós e todas as palavras são insuficientes para descrevê-la”, comentou Roberto Santos, coordenador do curso de História da ULBRA. Segundo ele, foram dois meses de organização do evento.

Alunos da graduação e da Especialização em Patrimônio Cultural e Identidades, além de professores e funcionários, prestaram homenagem através de um vídeo com depoimentos. O material, produzido em conjunto com o curso de Comunicação Social, foi entregue à docente, junto com outros presentes.

O pró-reitor de Extensão e Assuntos Comunitários e também professor do curso, Ricardo Rieth, falou que a “Universidade se faz com pessoas, como estudantes, colaboradores e professores. Nestes dez anos de casa, vi como a Naira se preocupa com os outros, e isso mostrou como é uma pessoa na faculdade. A ULBRA se orgulha de ter uma professora como a Naira”.

A homenageada da noite, Naira Vasconcellos, agradeceu todo o carinho recebido e expressou seus sentimentos: “A aposentadoria foi muito esperada, mas não será fácil deixar a Universidade. Foram 20 anos vividos aqui dentro. Não só dei aulas, mas criei laços. As muitas lembranças ficarão guardadas para sempre”.

Fonte: http://www.ulbra.br/historia/noticia/1042/homenagem-a-naira-vasconcellos/
ULBRA - Universidade Luterana do Brasil - www.ulbra.br
Extraído de; http://www.ulbra.br/historia/noticia/1042/homenagem-a-naira-vasconcellos/

Nosso racismo é um crime perfeito

Kabengele Munanga denuncia a farsa da democracia racial, defende o sistema de cotas e discute o espaço do negro na sociedade. O presidente da Nicarágua Daniel Ortega fala sobre a influência dos EUA na América Central e a proposta de mudança constitucional que permite sua reeleição.

Por Camila Souza Ramos e Glauco Faria

Fórum - O senhor veio do antigo Zaire que, apesar de ter alguns pontos de contato com a cultura brasileira e a cultura do Congo, é um país bem diferente. O senhor sentiu, quando veio pra cá, a questão racial? Como foi essa mudança para o senhor?
Kabengele - Essas coisas não são tão abertas como a gente pensa. Cheguei aqui em 1975, diretamente para a USP, para fazer doutorado. Não se depara com o preconceito à primeira vista, logo que sai do aeroporto. Essas coisas vêm pouco a pouco, quando se começa a descobrir que você entra em alguns lugares e percebe que é único, que te olham e já sabem que não é daqui, que não é como “nossos negros”, é diferente. Poderia dizer que esse estranhamento é por ser estrangeiro, mas essa comparação na verdade é feita em relação aos negros da terra, que não entram em alguns lugares ou não entram de cabeça erguida.
Depois, com o tempo, na academia, fiz disciplinas em antropologia e alguns de meus professores eram especialistas na questão racial. Foi através da academia, da literatura, que comecei a descobrir que havia problemas no país. Uma das primeiras aulas que fiz foi em 1975, 1976, já era uma disciplina sobre a questão racial com meu orientador João Batista Borges Pereira. Depois, com o tempo, você vai entrar em algum lugar em que está sozinho e se pergunta: onde estão os outros? As pessoas olhavam mesmo, inclusive olhavam mais quando eu entrava com minha mulher e meus filhos. Porque é uma família inter-racial: a mulher branca, o homem negro, um filho negro e um filho mestiço. Em todos os lugares em que a gente entrava, era motivo de curiosidade. O pessoal tentava ser discreto, mas nem sempre escondia. Entrávamos em lugares onde geralmente os negros não entram.
A partir daí você começa a buscar uma explicação para saber o porquê e se aproxima da literatura e das aulas da universidade que falam da discriminação racial no Brasil, os trabalhos de Florestan Fernandes, do Otavio Ianni, do meu próprio orientador e de tantos outros que trabalharam com a questão. Mas o problema é que quando a pessoa é adulta sabe se defender, mas as crianças não. Tenho dois filhos que nasceram na Bélgica, dois no Congo e meu caçula é brasileiro. Quantas vezes, quando estavam sozinhos na rua, sem defesa, se depararam com a polícia?
Meus filhos estudaram em escola particular, Colégio Equipe, onde estudavam filhos de alguns colegas professores. Eu não ia buscá-los na escola, e quando saíam para tomar ônibus e voltar para casa com alguns colegas que eram brancos, eles eram os únicos a ser revistados. No entanto, a condição social era a mesma e estudavam no mesmo colégio. Por que só eles podiam ser suspeitos e revistados pela polícia? Essa situação eu não posso contar quantas vezes vi acontecer. Lembro que meu filho mais velho, que hoje é ator, quando comprou o primeiro carro dele, não sei quantas vezes ele foi parado pela polícia. Sempre apontando a arma para ele para mostrar o documento. Ele foi instruído para não discutir e dizer que os documentos estão no porta-luvas, senão podem pensar que ele vai sacar uma arma. Na realidade, era suspeito de ser ladrão do próprio carro que ele comprou com o trabalho dele. Meus filhos até hoje não saem de casa para atravessar a rua sem documento. São adultos e criaram esse hábito, porque até você provar que não é ladrão... A geografia do seu corpo não indica isso.
Então, essa coisa de pensar que a diferença é simplesmente social, é claro que o social acompanha, mas e a geografia do corpo? Isso aqui também vai junto com o social, não tem como separar as duas coisas. Fui com o tempo respondendo à questão, por meio da vivência, com o cotidiano e as coisas que aprendi na universidade, depoimentos de pessoas da população negra, e entendi que a democracia racial é um mito. Existe realmente um racismo no Brasil, diferenciado daquele praticado na África do Sul durante o regime do apartheid, diferente também do racismo praticado nos EUA, principalmente no Sul. Porque nosso racismo é, utilizando uma palavra bem conhecida, sutil. Ele é velado. Pelo fato de ser sutil e velado isso não quer dizer que faça menos vítimas do que aquele que é aberto. Faz vítimas de qualquer maneira.

Revista Fórum - Quando você tem um sistema como o sul-africano ou um sistema de restrição de direitos como houve nos EUA, o inimigo está claro. No caso brasileiro é mais difícil combatê-lo...
Kabengele - Claro, é mais difícil. Porque você não identifica seu opressor. Nos EUA era mais fácil porque começava pelas leis. A primeira reivindicação: o fim das leis racistas. Depois, se luta para implementar políticas públicas que busquem a promoção da igualdade racial. Aqui é mais difícil, porque não tinha lei nem pra discriminar, nem pra proteger. As leis pra proteger estão na nova Constituição que diz que o racismo é um crime inafiançável. Antes disso tinha a lei Afonso Arinos, de 1951. De acordo com essa lei, a prática do racismo não era um crime, era uma contravenção. A população negra e indígena viveu muito tempo sem leis nem para discriminar nem para proteger.

Revista Fórum - Aqui no Brasil há mais dificuldade com relação ao sistema de cotas justamente por conta do mito da democracia racial? Kabengele - Tem segmentos da população a favor e contra. Começaria pelos que estão contra as cotas, que apelam para a própria Constituição, afirmando que perante a lei somos todos iguais. Então não devemos tratar os cidadãos brasileiros diferentemente, as cotas seriam uma inconstitucionalidade. Outro argumento contrário, que já foi demolido, é a ideia de que seria difícil distinguir os negros no Brasil para se beneficiar pelas cotas por causa da mestiçagem. O Brasil é um país de mestiçagem, muitos brasileiros têm sangue europeu, além de sangue indígena e africano, então seria difícil saber quem é afro-descendente que poderia ser beneficiado pela cota. Esse argumento não resistiu. Por quê? Num país onde existe discriminação antinegro, a própria discriminação é a prova de que é possível identificar os negros. Senão não teria discriminação.
Em comparação com outros países do mundo, o Brasil é um país que tem um índice de mestiçamento muito mais alto. Mas isso não pode impedir uma política, porque basta a autodeclaração. Basta um candidato declarar sua afro-descendência. Se tiver alguma dúvida, tem que averiguar. Nos casos-limite, o indivíduo se autodeclara afrodescendente. Às vezes, tem erros humanos, como o que aconteceu na UnB, de dois jovens mestiços, de mesmos pais, um entrou pelas cotas porque acharam que era mestiço, e o outro foi barrado porque acharam que era branco. Isso são erros humanos. Se tivessem certeza absoluta que era afro-descendente, não seria assim. Mas houve um recurso e ele entrou. Esses casos-limite existem, mas não é isso que vai impedir uma política pública que possa beneficiar uma grande parte da população brasileira.
Além do mais, o critério de cota no Brasil é diferente dos EUA. Nos EUA, começaram com um critério fixo e nato. Basta você nascer negro. No Brasil não. Se a gente analisar a história, com exceção da UnB, que tem suas razões, em todas as universidades brasileiras que entraram pelo critério das cotas, usaram o critério étnico-racial combinado com o critério econômico. O ponto de partida é a escola pública. Nos EUA não foi isso. Só que a imprensa não quer enxergar, todo mundo quer dizer que cota é simplesmente racial. Não é. Isso é mentira, tem que ver como funciona em todas as universidades. É necessário fazer um certo controle, senão não adianta aplicar as cotas. No entanto, se mantém a ideia de que, pelas pesquisas quantitativas, do IBGE, do Ipea, dos índices do Pnud, mostram que o abismo em matéria de educação entre negros e brancos é muito grande. Se a gente considerar isso então tem que ter uma política de mudança. É nesse sentido que se defende uma política de cotas.
O racismo é cotidiano na sociedade brasileira. As pessoas que estão contra cotas pensam como se o racismo não tivesse existido na sociedade, não estivesse criando vítimas. Se alguém comprovar que não tem mais racismo no Brasil, não devemos mais falar em cotas para negros. Deveríamos falar só de classes sociais. Mas como o racismo ainda existe, então não há como você tratar igualmente as pessoas que são vítimas de racismo e da questão econômica em relação àquelas que não sofrem esse tipo de preconceito. A própria pesquisa do IPEA mostra que se não mudar esse quadro, os negros vão levar muitos e muitos anos para chegar aonde estão os brancos em matéria de educação. Os que são contra cotas ainda dão o argumento de que qualquer política de diferença por parte do governo no Brasil seria uma política de reconhecimento das raças e isso seria um retrocesso, que teríamos conflitos, como os que aconteciam nos EUA.
Fórum - Que é o argumento do Demétrio Magnoli.
Kabengele - Isso é muito falso, porque já temos a experiência, alguns falam de mais de 70 universidades públicas, outros falam em 80. Já ouviu falar de conflitos raciais em algum lugar, linchamentos raciais? Não existe. É claro que houve manifestações numa universidade ou outra, umas pichações, "negro, volta pra senzala". Mas isso não se caracteriza como conflito racial. Isso é uma maneira de horrorizar a população, projetar conflitos que na realidade não vão existir.
Fórum - Agora o DEM entrou com uma ação no STF pedindo anulação das cotas. O que motiva um partido como o DEM, qual a conexão entre a ideologia de um partido ou um intelectual como o Magnoli e essa oposição ao sistema de cotas? Qual é a raiz dessa resistência?
Kabengele – Tenho a impressão que as posições ideológicas não são explícitas, são implícitas. A questão das cotas é uma questão política. Tem pessoas no Brasil que ainda acreditam que não há racismo no país. E o argumento desse deputado do DEM é esse, de que não há racismo no Brasil, que a questão é simplesmente socioeconômica. É um ponto de vista refutável, porque nós temos provas de que há racismo no Brasil no cotidiano. O que essas pessoas querem? Status quo. A ideia de que o Brasil vive muito bem, não há problema com ele, que o problema é só com os pobres, que não podemos introduzir as cotas porque seria introduzir uma discriminação contra os brancos e pobres. Mas eles ignoram que os brancos e pobres também são beneficiados pelas cotas, e eles negam esse argumento automaticamente, deixam isso de lado.
Fórum – Mas isso não é um cinismo de parte desses atores políticos, já que eles são contra o sistema de cotas, mas também são contra o Bolsa-Família ou qualquer tipo de política compensatória no campo socioeconômico?
Kabengele - É interessante, porque um país que tem problemas sociais do tamanho do Brasil deveria buscar caminhos de mudança, de transformação da sociedade. Cada vez que se toca nas políticas concretas de mudança, vem um discurso. Mas você não resolve os problemas sociais somente com a retórica. Quanto tempo se fala da qualidade da escola pública? Estou aqui no Brasil há 34 anos. Desde que cheguei aqui, a escola pública mudou em algum lugar? Não, mas o discurso continua. "Ah, é só mudar a escola pública." Os mesmos que dizem isso colocam os seus filhos na escola particular e sabem que a escola pública é ruim. Poderiam eles, como autoridades, dar melhor exemplo e colocar os filhos deles em escola pública e lutar pelas leis, bom salário para os educadores, laboratórios, segurança. Mas a coisa só fica no nível da retórica.
E tem esse argumento legalista, "porque a cota é uma inconstitucionalidade, porque não há racismo no Brasil". Há juristas que dizem que a igualdade da qual fala a Constituição é uma igualdade formal, mas tem a igualdade material. É essa igualdade material que é visada pelas políticas de ação afirmativa. Não basta dizer que somos todos iguais. Isso é importante, mas você tem que dar os meios e isso se faz com as políticas públicas. Muitos disseram que as cotas nas universidades iriam atingir a excelência universitária. Está comprovado que os alunos cotistas tiveram um rendimento igual ou superior aos outros. Então a excelência não foi prejudicada. Aliás, é curioso falar de mérito como se nosso vestibular fosse exemplo de democracia e de mérito. Mérito significa simplesmente que você coloca como ponto de partida as pessoas no mesmo nível. Quando as pessoas não são iguais, não se pode colocar no ponto de partida para concorrer igualmente. É como você pegar uma pessoa com um fusquinha e outro com um Mercedes, colocar na mesma linha de partida e ver qual o carro mais veloz. O aluno que vem da escola pública, da periferia, de péssima qualidade, e o aluno que vem de escola particular de boa qualidade, partindo do mesmo ponto, é claro que os que vêm de uma boa escola vão ter uma nota superior. Se um aluno que vem de um Pueri Domus, Liceu Pasteur, tira nota 8, esse que vem da periferia e tirou nota 5 teve uma caminhada muito longa. Essa nota 5 pode ser mais significativa do que a nota 7 ou 8. Dando oportunidade ao aluno, ele não vai decepcionar.
Foi isso que aconteceu, deram oportunidade. As cotas são aplicadas desde 2003. Nestes sete anos, quantos jovens beneficiados pelas cotas terminaram o curso universitário e quantos anos o Brasil levaria para formar o tanto de negros sem cotas? Talvez 20 ou mais. Isso são coisas concretas para as quais as pessoas fecham os olhos. No artigo do professor Demétrio Magnoli, ele me critica, mas não leu nada. Nem uma linha de meus livros. Simplesmente pegou o livro da Eneida de Almeida dos Santos, Mulato, negro não-negro e branco não-branco que pediu para eu fazer uma introdução, e desta introdução de três páginas ele tirou algumas frases e, a partir dessas frases, me acusa de ser um charlatão acadêmico, de professar o racismo científico abandonado há mais de um século e fazer parte de um projeto de racialização oficial do Brasil. Nunca leu nada do que eu escrevi.
A autora do livro é mestiça, psiquiatra e estuda a dificuldade que os mestiços entre branco e negro têm pra construir a sua identidade. Fiz a introdução mostrando que eles têm essa dificuldade justamente por causa de serem negros não-negros e brancos não-brancos. Isso prejudica o processo, mas no plano político, jurídico, eles não podem ficar ambivalentes. Eles têm que optar por uma identidade, têm que aceitar sua negritude, e não rejeitá-la. Com isso ele acha que eu estou professando a supressão dos mestiços no Brasil e que isso faz parte do projeto de racialização do brasileiro. Não tinha nada para me acusar, soube que estou defendendo as cotas, tirou três frases e fez a acusação dele no jornal.

Fórum - O senhor toca na questão do imaginário da democracia racial, mas as pessoas são formadas para aceitarem esse mito...
Kabengele - O racismo é uma ideologia. A ideologia só pode ser reproduzida se as próprias vítimas aceitam, a introjetam, naturalizam essa ideologia. Além das próprias vítimas, outros cidadãos também, que discriminam e acham que são superiores aos outros, que têm direito de ocupar os melhores lugares na sociedade. Se não reunir essas duas condições, o racismo não pode ser reproduzido como ideologia, mas toda educação que nós recebemos é para poder reproduzi-la.
Há negros que introduziram isso, que alienaram sua humanidade, que acham que são mesmo inferiores e o branco tem todo o direito de ocupar os postos de comando. Como também tem os brancos que introjetaram isso e acham mesmo que são superiores por natureza. Mas para você lutar contra essa ideia não bastam as leis, que são repressivas, só vão punir. Tem que educar também. A educação é um instrumento muito importante de mudança de mentalidade e o brasileiro foi educado para não assumir seus preconceitos. O Florestan Fernandes dizia que um dos problemas dos brasileiros é o “preconceito de ter preconceito de ter preconceito”. O brasileiro nunca vai aceitar que é preconceituoso. Foi educado para não aceitar isso. Como se diz, na casa de enforcado não se fala de corda.
Quando você está diante do negro, dizem que tem que dizer que é moreno, porque se disser que é negro, ele vai se sentir ofendido. O que não quer dizer que ele não deve ser chamado de negro. Ele tem nome, tem identidade, mas quando se fala dele, pode dizer que é negro, não precisa branqueá-lo, torná-lo moreno. O brasileiro foi educado para se comportar assim, para não falar de corda na casa de enforcado. Quando você pega um brasileiro em flagrante de prática racista, ele não aceita, porque não foi educado para isso. Se fosse um americano, ele vai dizer: "Não vou alugar minha casa para um negro". No Brasil, vai dizer: "Olha, amigo, você chegou tarde, acabei de alugar". Porque a educação que o americano recebeu é pra assumir suas práticas racistas, pra ser uma coisa explícita.
Quando a Folha de S. Paulo fez aquela pesquisa de opinião em 1995, perguntaram para muitos brasileiros se existe racismo no Brasil. Mais de 80% disseram que sim. Perguntaram para as mesmas pessoas: "você já discriminou alguém?". A maioria disse que não. Significa que há racismo, mas sem racistas. Ele está no ar... Como você vai combater isso? Muitas vezes o brasileiro chega a dizer ao negro que reage: "você que é complexado, o problema está na sua cabeça". Ele rejeita a culpa e coloca na própria vítima. Já ouviu falar de crime perfeito? Nosso racismo é um crime perfeito, porque a própria vítima é que é responsável pelo seu racismo, quem comentou não tem nenhum problema.

Revista Fórum - O humorista Danilo Gentilli escreveu no Twitter uma piada a respeito do King Kong, comparando com um jogador de futebol que saía com loiras. Houve uma reação grande e a continuação dos argumentos dele para se justificar vai ao encontro disso que o senhor está falando. Ele dizia que racista era quem acusava ele, e citava a questão do orgulho negro como algo de quem é racista.
Kebengele - Faz parte desse imaginário. O que está por trás que está fazendo uma ilustração de King Kong, que ele compara a um jogador de futebol que vai casar com uma loira, é a ideia de alguém que ascende na vida e vai procurar sua loira. Mas qual é o problema desse jogador de futebol? São pessoas vítimas do racismo que acham que agora ascenderam na vida e, para mostrar isso, têm que ter uma loira que era proibida quando eram pobres? Pode até ser uma explicação. Mas essa loira não é uma pessoa humana que pode dizer não ou sim e foi obrigada a ir com o King Kong por causa de dinheiro? Pode ser, quantos casamentos não são por dinheiro na nossa sociedade? A velha burguesia só se casa dentro da velha burguesia. Mas sempre tem pessoas que desobedecem as normas da sociedade.
Essas jovens brancas, loiras, também pulam a cerca de suas identidades pra casar com um negro jogador. Por que a corda só arrebenta do lado do jogador de futebol? No fundo, essas pessoas não querem que os negros casem com suas filhas. É uma forma de racismo. Estão praticando um preconceito que não respeita a vontade dessas mulheres nem essas pessoas que ascenderam na vida, numa sociedade onde o amor é algo sem fronteiras, e não teria tantos mestiços nessa sociedade. Com tudo o que aconteceu no campo de futebol com aquele jogador da Argentina que chamou o Grafite de macaco, com tudo o que acontece na Europa, esse humorista faz uma ilustração disso, ou é uma provocação ou quer reafirmar os preconceitos na nossa sociedade.

Fórum - É que no caso, o Danilo Gentili ainda justificou sua piada com um argumento muito simplório: "por que eu posso chamar um gordo de baleia e um negro de macaco", como se fosse a mesma coisa.
Kabengele - É interessante isso, porque tenho a impressão de que é um cara que não conhece a história e o orgulho negro tem uma história. São seres humanos que, pelo próprio processo de colonização, de escravidão, a essas pessoas foi negada sua humanidade. Para poder se recuperar, ele tem que assumir seu corpo como negro. Se olhar no espelho e se achar bonito ou se achar feio. É isso o orgulho negro. E faz parte do processo de se assumir como negro, assumir seu corpo que foi recusado. Se o humorista conhecesse isso, entenderia a história do orgulho negro. O branco não tem motivo para ter orgulho branco porque ele é vitorioso, está lá em cima. O outro que está lá em baixo que deve ter orgulho, que deve construir esse orgulho para poder se reerguer.

Fórum - O senhor tocou no caso do Grafite com o Desábato, e recentemente tivemos, no jogo da Libertadores entre Cruzeiro e Grêmio, o caso de um jogador que teria sido chamado de macaco por outro atleta. Em geral, as pessoas – jornalistas que comentaram, a diretoria gremista – argumentavam que no campo de futebol você pode falar qualquer coisa, e que se as pessoas fossem se importar com isso, não teria como ter jogo de futebol. Como você vê esse tipo de situação?
Kabengele - Isso é uma prova daquilo que falei, os brasileiros são educados para não assumir seus hábitos, seu racismo. Em outros países, não teria essa conversa de que no campo de futebol vale. O pessoal pune mesmo. Mas aqui, quando se trata do negro... Já ouviu caso contrário, de negro que chama branco de macaco? Quando aquele delegado prendeu o jogador argentino no caso do Grafite, todo mundo caiu em cima. Os técnicos, jornalistas, esportistas, todo mundo dizendo que é assim no futebol. Então a gente não pode educar o jogador de futebol, tudo é permitido? Quando há violência física, eles são punidos, mas isso aqui é uma violência também, uma violência simbólica. Por que a violência simbólica é aceita a violência física é punida?

Fórum - Como o senhor vê hoje a aplicação da lei que determina a obrigatoriedade do ensino de cultura africana nas escolas? Os professores, de um modo geral, estão preparados para lidar com a questão racial?
Kabengele - Essa lei já foi objeto de crítica das pessoas que acham que isso também seria uma racialização do Brasil. Pessoas que acham que, sendo a população brasileira uma população mestiça, não é preciso ensinar a cultura do negro, ensinar a história do negro ou da África. Temos uma única história, uma única cultura, que é uma cultura mestiça. Tem pessoas que vão nessa direção, pensam que isso é uma racialização da educação no Brasil.
Mas essa questão do ensino da diversidade na escola não é propriedade do Brasil. Todos os países do mundo lidam com a questão da diversidade, do ensino da diversidade na escola, até os que não foram colonizadores, os nórdicos, com a vinda dos imigrantes, estão tratando da questão da diversidade na escola.
O Brasil deveria tratar dessa questão com mais força, porque é um país que nasceu do encontro das culturas, das civilizações. Os europeus chegaram, a população indígena – dona da terra – os africanos, depois a última onda imigratória é dos asiáticos. Então tudo isso faz parte das raízes formadoras do Brasil que devem fazer parte da formação do cidadão. Ora, se a gente olhar nosso sistema educativo, percebemos que a história do negro, da África, das populações indígenas não fazia parte da educação do brasileiro.
Nosso modelo de educação é eurocêntrico. Do ponto de vista da historiografia oficial, os portugueses chegaram na África, encontraram os africanos vendendo seus filhos, compraram e levaram para o Brasil. Não foi isso que aconteceu. A história da escravidão é uma história da violência. Quando se fala de contribuições, nunca se fala da África. Se se introduzir a história do outro de uma maneira positiva, isso ajuda.
É por isso que a educação, a introdução da história dele no Brasil, faz parte desse processo de construção do orgulho negro. Ele tem que saber que foi trazido e aqui contribuiu com o seu trabalho, trabalho escravizado, para construir as bases da economia colonial brasileira. Além do mais, houve a resistência, o negro não era um João-Bobo que simplesmente aceitou, senão a gente não teria rebeliões das senzalas, o Quilombo dos Palmares, que durou quase um século. São provas de resistência e de defesa da dignidade humana. São essas coisas que devem ser ensinadas. Isso faz parte do patrimônio histórico de todos os brasileiros. O branco e o negro têm que conhecer essa história porque é aí que vão poder respeitar os outros.
Voltando a sua pergunta, as dificuldades são de duas ordens. Em primeiro lugar, os educadores não têm formação para ensinar a diversidade. Estudaram em escolas de educação eurocêntrica, onde não se ensinava a história do negro, não estudaram história da África, como vão passar isso aos alunos? Além do mais, a África é um continente, com centenas de culturas e civilizações. São 54 países oficialmente. A primeira coisa é formar os educadores, orientar por onde começou a cultura negra no Brasil, por onde começa essa história. Depois dessa formação, com certo conteúdo, material didático de boa qualidade, que nada tem a ver com a historiografia oficial, o processo pode funcionar.

Fórum - Outra questão que se discute é sobre o negro nos espaços de poder. Não se veem negros como prefeitos, governadores. Como trabalhar contra isso?
Kabengele - O que é um país democrático? Um país democrático, no meu ponto de vista, é um país que reflete a sua diversidade na estrutura de poder. Nela, você vê mulheres ocupando cargos de responsabilidade, no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, assim como no setor privado. E ainda os índios, que são os grandes discriminados pela sociedade. Isso seria um país democrático. O fato de você olhar a estrutura de poder e ver poucos negros ou quase não ver negros, não ver mulheres, não ver índios, isso significa que há alguma coisa que não foi feita nesse país. Como construção da democracia, a representatividade da diversidade não existe na estrutura de poder. Por quê?
Se você fizer um levantamento no campo jurídico, quantos desembargadores e juízes negros têm na sociedade brasileira? Se você for pras universidades públicas, quantos professores negros tem, começando por minha própria universidade? Esta universidade tem cerca de 5 mil professores. Quantos professores negros tem na USP? Nessa grande faculdade, que é a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH), uma das maiores da USP junto com a Politécnica, tenho certeza de que na minha faculdade fui o primeiro negro a entrar como professor. Desde que entrei no Departamento de Antropologia, não entrou outro. Daqui três anos vou me aposentar. O professor Milton Santos, que era um grande professor, quase Nobel da Geografia, entrou no departamento, veio do exterior e eu já estava aqui. Em toda a USP, não sou capaz de passar de dez pessoas conhecidas. Pode ter mais, mas não chega a 50, exagerando. Se você for para as grandes universidades americanas, Harvard, Princeton, Standford, você vai encontrar mais negros professores do que no Brasil. Lá eles são mais racistas, ou eram mais racistas, mas como explicar tudo isso?
120 anos de abolição. Por que não houve uma certa mobilidade social para os negros chegarem lá? Há duas explicações: ou você diz que ele é geneticamente menos inteligente, o que seria uma explicação racista, ou encontra explicação na sociedade. Quer dizer que se bloqueou a sua mobilidade. E isso passa por questão de preconceito, de discriminação racial. Não há como explicar isso. Se você entender que os imigrantes japoneses chegaram, nós comemoramos 100 anos recentemente da sua vinda, eles tiveram uma certa mobilidade. Os coreanos também ocupam um lugar na sociedade. Mas os negros já estão a 120 anos da abolição. Então tem uma explicação. Daí a necessidade de se mudar o quadro. Ou nós mantemos o quadro, porque se não mudamos estamos racializando o Brasil, ou a gente mantém a situação para mostrar que não somos racistas. Porque a explicação é essa, se mexer, somos racistas e estamos racializando. Então vamos deixar as coisas do jeito que estão. Esse é o dilema da sociedade.

Revista Fórum – como o senhor vê o tratamento dado pela mídia à questão racial?
Kabengele - A imprensa faz parte da sociedade. Acho que esse discurso do mito da democracia racial é um discurso também que é absorvido por alguns membros da imprensa. Acho que há uma certa tendência na imprensa pelo fato de ser contra as políticas de ação afirmativa, sendo que também não são muito favoráveis a essa questão da obrigatoriedade do ensino da história do negro na escola.
Houve, no mês passado, a II Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial. Silêncio completo da imprensa brasileira. Não houve matérias sobre isso. Os grandes jornais da imprensa escrita não pautaram isso. O silêncio faz parte do dispositivo do racismo brasileiro. Como disse Elie Wiesel, o carrasco mata sempre duas vezes. A segunda mata pelo silêncio. O silêncio é uma maneira de você matar a consciência de um povo. Porque se falar sobre isso abertamente, as pessoas vão buscar saber, se conscientizar, mas se ficar no silêncio a coisa morre por aí. Então acho que o silêncio da imprensa, no meu ponto de vista, passa por essa estratégia, é o não-dito.
Acabei de passar por uma experiência interessante. Saí da Conferência Nacional e fui para Barcelona, convidado por um grupo de brasileiros que pratica capoeira. Claro, receberam recursos do Ministério das Relações Exteriores, que pagou minha passagem e a estadia. Era uma reunião pequena de capoeiristas e fiz uma conferência sobre a cultura negra no Brasil. Saiu no El Pais, que é o jornal mais importante da Espanha, noticiou isso, uma coisa pequena. Uma conferência nacional deste tamanho aqui não se fala. É um contrassenso. O silêncio da imprensa não é um silêncio neutro, é um silêncio que indica uma certa orientação da questão racial. Tem que não dizer muita coisa e ficar calado. Amanhã não se fala mais, acabou.

Texto extraído de: http://www.revistaforum.com.br/sitefinal/EdicaoNoticiaIntegra.asp?id_artigo=7378
Imagem extraída de: http://www.programabolsa.org.br/fccComissao/mKabengelee.jpg

Prorrogação de Inscrições ICNME 2010

As inscrições para comunicações e propostas de oficinas do I Congresso Nacional de Memória e Etnicidade (ICNME) foram prorrogadas para o dia 11 de julho de 2010
Mais informações: www.ufsm.br/nep