sábado, 12 de fevereiro de 2011

Memórias de viagens de D. Pedro II ganham registro da Unesco

A visão do mundo por meio de relatos de um célebre viajante, Dom Pedro II, compõe um conjunto com 871 documentos da Casa Imperial do Brasil, que recebeu no início do mês o Registro Nacional do Comitê do Programa Memória do Mundo, concedido pela Unesco. A nomeação é o primeiro passo para que uma obra possa se tornar Patrimônio Histórico da Humanidade. Para isso, pesquisadores trabalham no Museu Imperial, em Petrópolis, na análise de outros 50 mil documentos deixados pelo monarca, à procura de mais relatos referentes às suas jornadas.


Para se tornar Patrimônio Histórico da Humanidade, a obra deve ter um tema que seja relevante para diferentes partes do mundo. Dom Pedro viajou pelos quatro continentes, em dezenas de países. De cada lugar ele fez um relato minucioso. Por isso, esperamos ser contemplados em 2012 com o título — diz a historiadora Neibe Machado da Costa, responsável pelo arquivo da Casa Imperial do Brasil.

Além dos diários, o conjunto conta com projetos e despesas de viagens, correspondências do imperador, programas de concertos, convites de eventos e jornais da época. Segundo Neibe, Dom Pedro II era um exímio narrador. Bastava um pedaço de papel avulso para que ele fizesse relatos sobre o que estava ocorrendo.

Ele escrevia o dia todo, desde o que estava vestindo até o que ia comer. Na leitura dos diários, é possível visualizar como eram as cidades, as pessoas e os costumes da época. Além disso, ele fazia desenhos da paisagem de onde estava — conta a historiadora.

Depois de concluída a leitura do restante dos documentos, a Casa Imperial do Brasil planeja lançar publicações digitais e convencionais e catálogos educativos. Também está prevista uma grande exposição para 2014.

No ano em que o mundo estará voltado para o Brasil, devido à Copa do Mundo, queremos mostrar um pouco da história do imperador que se voltou para o mundo — conclui Neibe.

Um observador crítico

Viajar era, sem dúvida, uma paixão para Dom Pedro II. Num de seus diários, ele afirma que preferia não ter sido imperador para poder se dedicar mais ao turismo. O trecho diz: “Nasci para consagrar-me às letras e às ciências, e, ocupar posição política, preferiria a de presente da República ou ministro à de imperador. Se ao menos meu pai imperasse ainda estaria eu há 11 anos com assento no Senado e teria viajado pelo mundo.”


Por meio dos 871 documentos já analisados pelas pesquisadoras da Casa Imperial do Brasil, sabe-se que ele passou por países de culturas completamente distintas, como o Canadá, a Rússia, a Turquia, a Alemanha e a Itália.

 Temos documentos de pessoas que influenciaram Dom Pedro a conhecer determinado país. Ele tinha grandes amigos nos EUA, por exemplo. O que queremos é demonstrar as interligações pessoais e diplomáticas do imperador — explica a historiadora Neibe Machado da Costa, responsável pelo arquivo da casa.

Uma de suas viagens mais marcantes ocorreu em 1876, justamente para os EUA, para onde ele foi como convidado de honra para a Exposição Universal, na Filadélfia, Pensilvânia. Foi lá que o imperador conheceu o telefone e se encantou, trazendo-o para o Brasil, que foi o  segundo país a ter a invenção. Como presente aos anfitriões, ele levou um hino feito pelo maestro Carlos Gomes especialmente para os americanos. Em outra correspondência, com Guilherme Capanema, o Barão de Capanema, o imperador pede que ele compre três casas em Viena, na Áustria, onde pretendia montar o Museu da Cultura Brasileira. O projeto acabou não se concretizando.

O Brasil não ficou de fora do roteiro de Dom Pedro II. Ele passou por diversas cidades do país e fez relatos detalhados de como era a vida nesses lugares. Um costume que tinha era o de, em cada município, visitar a Câmara, a cadeia e a escola. Em uma de suas viagens ao Espírito Santo, ele teve contato com os índios puris. Na ocasião, fez um pequeno glossário traduzindo termos do seu dialeto para o português.

Dom Pedro também tinha o costume de relatar passagens engraçadas que vivia ao chegar em lugares diferentes. Na viagem que fez em 1859 à Paraíba, ele diz: “Receberam-me com entusiasmo muito cordial e gritando um — Viva o imperador que não hei de vê-lo mais!. Outro replicou — porque não, já sabe o caminho!”. Em outra passagem, o imperador fala sobre um problema que até hoje afeta Petrópolis: as enchentes. Ele pede que um engenheiro vá até a cidade e descubra a causa do problema.
Os documentos são referentes a 50 anos da vida do imperador. Ainda estamos começando, mas a expectativa é que até 2012 o trabalho esteja concluído para que possamos divulgar essas passagens da vida dessa personalidade da História brasileira — conclui a pesquisadora.

Além dela, a equipe de pesquisa conta com a arquivista Thais Cardoso Martins e a historiadora Alessandra Figueiredo Fraguas.

Siga o Bairros.com no Twitter: @Bairrospontocom.
Extraído do site Bairros.com do Jornal O Globo

Fonte: Site Café História

Nenhum comentário:

Postar um comentário