sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Qual é a utilidade de uma Comissão da Verdade?

Por Carlos Fico

Para muitos, é errado revolver um passado traumático. Melhor seria esquecer, deixar para lá. Mas nem sempre é melhor esquecer, quase nunca, aliás. A memória e a história são inerentes à natureza humana. Podemos preferir esquecer, mas é conveniente que isso seja feito através de uma espécie de sublimação ou catarse, um processo de libertação, de expulsão ou de purgação que virá depois, porque, inicialmente, isso demanda o enfrentamento.

O arranjo de 1979 – a Lei de Anistia que perdoou os torturadores – até hoje não pacificou a sociedade brasileira. É ilusório pretender “pôr uma pedra em cima”, “passar uma borracha no passado”: esses arranjos não funcionam nem como boas metáforas.

Para alguns, é errado instituir uma Comissão da Verdade incapaz de punir. Melhor seria instaurar um processo judicial, apurar responsabilidades e criminalizar aqueles que torturaram e mataram. Em seu famoso “Discurso sobre a História”, em 1932, Paul Valèry disse que, em épocas normais, “a guilhotina felizmente não está à disposição dos historiadores”. A Comissão da Verdade não deve servir para vingar as violências.

Para poucos, a comissão deveria apurar os “dois lados”, como se tentou fazer na Argentina (a Teoría de los Dos Demonios) ou na Espanha (a tese da equivalencia). Sempre deu errado. O motivo: o Estado - mesmo o Estado autoritário - tinha todas as condições de combater a luta armada sem apelar para a tortura e o extermínio. Além disso, os adeptos da luta armada já foram punidos de diversas formas.

Se aprovada pelo Senado, a Comissão da Verdade poderá mostrar à sociedade brasileira que nossa ditadura foi mais violenta do que se pensa. Milhares de pessoas foram prejudicadas – além daquelas que foram obviamente atingidas pela tortura, pela violência explícita. Crianças foram separadas de seus pais. Jovens foram impedidos de estudar. Profissionais qualificados tiveram suas carreiras destruídas. Esposas, maridos, filhos, pais e avós foram massacrados psicologicamente pela crueldade do “desaparecimento”.

Um espaço institucional no qual se possam levantar dados, conferir a realidade de alguns testemunhos, estimular a apresentação de depoimentos e ouvir o pedido de perdão do Estado: eis o que a Comissão da Verdade pode ser. Ela pode dar errado, é claro, se a composição for ruim, se o prazo for pequeno, se pretender construir uma narrativa oficial e ideológica.

Mas ela pode dar certo, servindo à sociedade brasileira como mecanismo de enfrentamento da realidade passada, como o acerto de contas possível, aquele que a própria sociedade aceita. Pode não ser o melhor, mas é o que o atual sistema democrático permite fazer. Além disso, dificilmente haverá outra conjuntura tão favorável como a atual. Última chance.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Convite Sessão de Autógrafos Feira do Livro de Porto Alegre

Convite: O Positivismo e a sua propagação


Fonte: Blog Arquivo  Histórico Moysés Velhinho

Boletim Eletrônico da ANPUH-RS - BE 066-2011/2

                       Boletim Eletrônico da ANPUH-RS - BE 066-2011/2



Participe dos Grupos de Trabalho da ANPUH-RS!
Ainda não é sócio? Saiba como se filiar clicando aqui.

Fonte: ANPUH-RS - Associação Nacional de História - Seção Rio Grande do SulDisponível em: http://www.anpuh-rs.org.br/

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

24 de outubro de 1945: É fundada a Organização das Nações Unidas


"A paz não depende somente de documentos, mas do desejo dos povos em mantê-la".
James Byrnes




A Organização das Nações Unidas, ONU, começou a existir oficialmente após o Secretário de Estado norte-americano, James Byrnes, protocolar o depósito das ratificações de 51 países, entre eles o Brasil, à Carta das Nações Unidas, redigida quatro meses antes, durante a Conferência das Nações Unidas para uma Organização Internacional, em São Francisco, na Califórnia.


Com propósito de fomentar a paz entre as nações, defender os direitos humanos, respeitar a autodeterminação de cada país e promover a solidariedade entre eles, o documento foi uma promessa de melhores perspectivas para o mundo pós-guerra, temeroso pela emergente e desconhecida era atômica. A Carta prescreveu que as controvérsias internacionais deveriam ser resolvidas por meios pacíficos, evitando a ameaça ou o uso da força.

Refugiados ruandenses na Estrada de Goma.
 Reprodução CPDOC Jornal do Brasil
A ONU nascia, então, não com uma missão, mas com um desafio: consolidar a cooperação internacional em questões de exclusão - miséria, discriminação, analfabetismo, opressão política, criminalidade, entre outros problemas de ordem socioeconômica - pela manutenção da paz.


Assumia, assim, um papel delicado. Preconizar a cultura do convívio fundamentada em princípios de liberdade, justiça e democracia, num mundo onde o homem é o lobo do próprio homem.

A ONU hoje conta com mais de 180 países membros. Ao longo de sua história vem atuando em inúmeras causas para combater a fome, o armamento bélico, a degradação ambiental, a exploração de mão-de-obra infantil, as epidemias, a perseguição racial e religiosa.

Mas as disputas territoriais e militares mantém-se como o seu maior desafio.


Fonte: Blog Hoje na História  CPDOC Jornal do Brasil. Disponível em: http://jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=28469 

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Um dia para não esquecer jamais: um novo marco para o Falando de História

Prezados leitores deste humilde blog. Na condição de idealizador deste espaço, cuja ideia nasceu ainda no meu desabrochar acadêmico de 2005, senti e sinto uma alegria extrema em voltar a ULBRA e ao curso que mudou a minha vida não só profissional, mas como um ser humano.
Quando idealizei o Falando de História ((na época, com outro nome) não tinha a dimensão da sua repercussão. Pensava que teria que trilhar uns 10 anos para alcançar os resultados que temo obtido. Em menos de 2 anos o Blog conta com mais de 40 mil visitas, ontem ouvi algo que me deixa emocionado profundamente de que o Blog FH é extremamente comentado pelo Curso de História da ULBRA.

Ontem, dia 20 de outubro de 2011 é um marco importantíssimo para o Falando de História. Ao apresenta-lo aos meus colegas amados na Semana Acadêmica de História, percebi que os frutos estão chegando.
2011, tem sido um ano especial para o Falando de História. Primeiro porque surgiram companheiros de grande importância para a sua manutenção e prosseguimento, aos quais divido com muito orgulho este êxito inicial, os queridos e importantes companheiros de trabalho: Luciano Henrique Cristo, Rossana Fichimamm e Rodrigo Pinnow que tem me ajudado muito. Também destaco a força e o apoio recebido por parte do professor José D´Assunção Barros que sempre me deu  muita força.

Agradeço a todos que acessam o Falando de História, ao Curso de História na pessoa de meu querido Mestre Roberto dos Santos e dos meus estimados colegas e fraternais companheiros do Curso de História da ULBRA.

Agradeço por fim todos os blogs, sites, instituições que apoiam o Falando de História, resta dizer para todos:
MUITO OBRIGADO! Podem ter certeza, 2012 será  um ano de muito mais conquistas do Falando de História

Seguem algumas fotos do encontro de ontem da Semana Acadêmica de História da ULBRA.

Noé Gomes recebendo certificado de participação do
Professor e Coordenador do Coordenador do Curso de História da ULBRA, Roberto dos Santos
Foto: Antonio Filipe Szezecinski 

Palestrantes do dia 20 de outubro de 2011 da Seamana Acadêmica de História da ULBRA,
com Roberto dos Santos
Foto: Antonio Filipe Szezecinski 

Noé Gomes expondo o Falando de História na Semana Acadêmica de História da ULBRA
Foto: Antonio Filipe Szezecinski 
Para finalizar parabenizo a Comissão Organizadora do Evento, que se encerra hoje com a palestra de Rodrigo Simões, com o tema História, cultura e pesquisa ( meu querido mestre da ULBRA Gravataí). Para marcar a data, a partir da sugestão de meu querido mestre Roberto dos Santos o Falando de História, começa a ser chamado não mais como projeto, mas sim como uma ação. Nasce a Ação Falando de História.

Instituto Vladimir Herzog lança livro com capas de históricos jornais brasileiros que combateram a ditadura

Obra faz parte do projeto “Resistir é Preciso...”, que resgata e demonstra a luta dos jornalistas brasileiros durante a ditadura

Divulgação: Instituto Vladimir Herzog
O Instituto Vladimir Herzog lançará, na terça-feira, dia 25 de Outubro, na Livraria Cultura da Avenida Paulista (2073), o livro As Capas desta História, que resgata a memória do Brasil e da imprensa nacional durante os anos de ditadura. Na pesquisa realizada, o coordenador geral, jornalista Ricardo Carvalho, encontrou verdadeiras raridades que compõem a obra: são mais de 300 capas de jornais alternativos, clandestinos e produzidos no exílio.

O livro é produto de um trabalho de 90 dias, realizado pelos coordenadores José Luiz Del Roio (contexto) e Vladimir Sacchetta (pesquisa), com a consultoria de Carlos Azevedo, além de três pesquisadores e do editor de texto José Mauricio de Oliveira.

Por meio das fotos das capas, a obra registra a trajetória dessa imprensa desde 1964, ano do golpe, até a Lei da Anistia, em 1979. Publicações elaboradas por exilados e até então inéditas no Brasil se destacam ao lado de capas de jornais mais conhecidos, como Pasquim, Opinião, Movimento e Unidade, do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo.

Além disso, o capítulo inicial Precursores desta História demonstra a tendência contestadora e questionadora da imprensa brasileira, desde seus primórdios. O Correio Braziliense, primeiro jornal independente brasileiro, publicado em Londres; a Revista de Antropofagia e Klaxon, ligadas ao Movimento Modernista Brasileiro da década de 1920; e o jornal A Manha, diário de crítica e sátira do Barão de Itararé, são alguns exemplos que fazem parte desta seção especial. 

As Capas desta História integra o projeto Resistir é Preciso..., idealizado pelo Instituto Vladimir Herzog, que tem por objetivo manter viva na memória dos brasileiros a luta da imprensa durante a ditadura, momento em que centenas de profissionais do meio foram presos, torturados e assassinados. A obra junta-se à coletânea de 12 DVDs Os Protagonistas desta História, patrocinada pela Petrobras, com depoimentos de 60 jornalistas e “fazedores de jornais” que vivenciaram e enfrentaram as dificuldades da época, lançada em Junho deste ano.

Patrocinado pelo BNDES, Camargo Corrêa e Souza Cruz e com apoio do Ministério da Cultura, por meio da Lei de Incentivo à Cultura, o livro estará à venda por R$90,00 na Livraria Cultura e no site do Instituto Vladimir Herzog (www.vladimirherzog.org). Além disso o Ministério da Cultura distribuirá gratuitamente 1.350 exemplares a bibliotecas públicas do País.

Também estará à venda no portal do projeto Resistir é Preciso...(www. resistirepreciso.org.br),  que entrará no ar no mesmo dia 25 de Outubro próximo e conterá todo o material já produzido para essa iniciativa do Instituto Vladimir Herzog.

Lançamento, com a presença de Ricardo Carvalho, José Luiz Del Roio e Vladimir Sacchetta
Quando: 25 de Outubro às 19 horas
Onde: Livraria Cultura (Avenida Paulista, 2073)

Fonte: Instituto Vladimir Herzog

terça-feira, 18 de outubro de 2011

18 de outubro de 1954: Morre Roquette Pinto, o pai da radiodifusão no Brasil

Reprodução Blog Hoje na História - Jornal do Brasil

A cultura brasileira perdeu uma de suas figuras mais ilustres. Edgar Roquette-Pinto, 70 anos, morreu de parada cardíaca, quando preparava mais um artigo para ser publicado no Jornal do Brasil. Sua perda deixou uma lacuna irreparável ao patrimônio intelectual nacional.

Nascido no Rio de Janeiro do fim do Império, Roquette Pinto desde sempre dedicou-se aos estudos. Disciplinado e engajado em causas científicas, teve o mesmo gosto pelas artes, em particular pela literatura. Foi médico, educador, antropólogo, etnólogo e ensaísta. 

Reprodução Blog Hoje na História - Jornal do Brasil
O ano de 1922 foi decisivo na vida de Roquete Pinto. O país comemorava o primeiro centenário da sua independência e o Rio de Janeiro, então capital federal, sediou uma grande feira internacional. O destaque do evento ficou por conta da apresentação de um revolucionário empreendimento, financiado por empresários norte americanos: a radiodifusão. Para realizar uma demonstração de seu potencial, foi instalada uma antena no morro do Corcovado, que permitiu a transmissão radiofônica de um discurso do presidente Epitácio Pessoa, captado em Niterói, Petrópolis, na serra fluminense e em São Paulo, onde foram instalados aparelhos receptores.

Roquete Pinto ficou fascinado com a experiência e seu alcance, percebendo rapidamente a contribuição que poderia oferecer à educação do povo brasileiro, como defenderia mais tarde: "O rádio é o jornal de quem não sabe ler, é o mestre de quem não pode ir à escola, é o divertimento gratuito do pobre". 

Mesmo sem conseguir convencer o governo federal a investir na aquisição daquele equipamento, Roquete Pinto persistiu em seus ideais. Partiu em busca do apoio de outras entidades até que, no ano seguinte, a Academia Brasileira de Ciências concedeu as condições necessárias para que ele instalasse a primeira emissora do país: a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, que mais tarde seria doada ao Ministério da Educação, com o compromisso de manter sua proposta original de função essencialmente educativa.

O precursor da radiodifusão no Brasil foi também membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Brasileira de Ciências, da Sociedade de Geografia, da Academia Nacional de Medicina, entre outras. Fundou a Revista Nacional de Educação (1932) e o Instituto Nacional de Cinema Educativo (1936). Deu enorme contribuição a vários projetos nacionais, principalmente os voltados à cultura interiorana brasileira.



Fonte: Blog Hoje na História - CPDOC Jornal do Brasil. Disponível em: http://jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=28399

Agente infiltrado durante a ditadura, Cabo Anselmo diz que é sustentado por empresários


José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, disse nesta segunda-feira, 17, ser sustentado por empresários. A declaração foi dada em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura.
Anselmo ficou conhecido no período da ditadura militar, quando atuou como agente infiltrado da repressão, levando à prisão de diversos militantes de esquerda – na mesma entrevista, ele admitiu que podem ser entre 100 e 200, entre eles, a própria namorada, Soledad Barret Viedma.
Criticou a proposta da Comissão da Verdade. “Tem que ter gente da esquerda e da direita”. Disse não se incomodar de entrar para a história como traidor: “O que eu posso fazer quanto a isso?”
Mais de 20 anos depois do fim da ditadura, Anselmo ainda está em situação de clandestinidade. Ele pleiteia o reconhecimento de sua identidade e ainda, o pagamento de uma pensão – a exemplo do que acontece com vários militantes de esquerda. Na entrevista, afirmou que se pudesse votar, teria votado em José Serra.
Antes da ditadura, Anselmo liderou um movimento de marinheiros que acabou precipitando o golpe militar de 1964.
Veja como foi:
23h28 – Questionado se se incomoda de entrar para a história como traidor, Anselmo pergunta: “O que eu posso fazer quanto a isso?”
23h26 – Quem assassinou eu não sei. Quem entregou eu fiz parte disso. Quem entregou era o dr. Carlos. Para descobrir quem matou, tem que ir atrás dos agentes do Dops.” Questionado se estão na polícia de São Paulo, Anselmo responde: “Sim, claro.”
23h18 – Anselmo não conta nomes. “Acho que eu não devo constranger certas pessoas.” Promete  que dará nomes que possam ajudar a descobrir informações sobre a ditadura à Comissão da Verdade.
23h09 - Anselmo diz que mudou de ideia sobre a revolução quando esteve em Cuba. “Não queria aquilo, queria uma revolução nacionalista, como Brizola defendia.”
23h03 – “Eu era um cabra marcado para morrer. Fui preso várias vezes e não fui morto. A própria presidente Dilma foi presa e não morreu.”
23h00 – Anselmo diz que não sabe o que estão os desaparecidos, embora soubesse que alguns estavam mortos. “Eu não tinha contato com a parte operacional de matar e prender. Mas tinha informações de bastidores.”
22h56 – “Eu fui expulso da Marinha. Houve uma anistia. Então, todo esse tempo que eu fiquei fora da Marinha não existiu.” Anselmo diz que é sustentado por 3 pessoas, mas não conta os nomes. “É gente que é empresário.”
22h52 – Diz que não tem contato com outros ‘cachorros’ da ditadura. Segundo ele, os nomes dos agentes da ditadura estão nos arquivos da ditadura que os militares não querem abrir. Afirma que contaria o que sabe à Comissão da Verdade, mas desde que participassem gente da esquerda e da direita. “E não só de um lado” como, segundo ele, acontece até agora.
22h52 – Anselmo admite que pode ter contribuído com a morte de 100 a 200 pessoas.
22h48 – Cabo Anselmo diz que entregou companheiros para abreviar a luta armada. “O povo brasileiro era meu tio, minha…” Questionado se ele também não havia abandonado sua família, Anselmo diz que isso aconteceu apenas porque ele estava na Marinha.
22h40 – “Eu tenho uma dúvida” sobre a morte do Dr. Fleury. “Na época que eu convivi com ele, ele era o Dr. Fleury. Convivi com ele e me acostumei com isso. O Dr. Tuma tinha muito mais poder que o Dr. Fleury.”  Anselmo nega que soubesse que Tuma ou Fleury praticassem tortura. “Só me lembro do Henrique Perrone. Tuma, Fleury, todo mundo sabia da tortura.”
22h32 – Anselmo diz que quando militou na esquerda foi um “ator”. “Está sendo um ator agora?” “Não.”
22h30 – A nselmo nega que tivesse contato com a presidente Dilma. “A inferência que eu faço é que Dilma foi uma moça que fazia uma coisa de organização. O que eu sei da presidente Dilma é o que eu leio nas revistas.”
22h27 – “Se eu soubesse o que aconteceria, não teria feito. Mas me arrepender não vai trazer ela de volta. Já haviam morrido muitos, e muitos outros morreriam”, argumenta.
22h23 – “Soledad não acreditava naquilo.  Existia entre nós um carinho muito grande. Esse negócio não está bem resolvido dentro de mim hoje. Eu tenho uma dor muito grande pelo que aconteceu com aquela mulher bela, que era poeta. Mas também ela estava metida numa luta que não devia estar”, conta Anselmo.
22h22 – Anselmo nega que Soledad não estava grávida e diz que só soube da morte de sua mulher, Soledad, pelo jornal.
22h20 – “Eu falei para o dr. Fleury: em vez de deixar a Soledad presa, manda ela para Cuba. Ela tem uma criança para cuidar. Eu era um preso. Quem passava as informações era o meu sombra, que era agente de Fleury.”
22h17 – “Ela não me dava nenhuma informação. Nós tínhamos uma relação marital.” Cabo Anselmo diz que não sabia o que aconteceria com Soledad.
22h15 – Perguntado se teria arrependimento sobre o massacre de Recife, quando 6 pessoas – inclusive sua mulher na época, Soledad – que Anselmo teria entregado. “Soledad era filha de dirigentes comunistas paraguaios. Ela foi para Cuba treinar para ser agente comunista em qualquer parte do mundo. Quem escolheu esse risco? Quem escolheu pegar em armas?”
22h12 - Cabo Anselmo diz que só passou a colaborar com a ditadura depois que sofreu tortura. “Depois do pau de arara, depois dos choques elétricos.”
22h04 - O apresentador Mário Sérgio Conti pergunta ao cabo Anselmo se ele se arrepende mais de ter servido à ditadura ou de ter combatido a ditadura. “Nem uma coisa nem outra. Eu me arrependo de ter saído da Marinha e de ter passado à insubordinação”, respondeu. Diz que aderiu espontaneamente à ditadura porque percebeu que a esquerda estava errada.
Fonte: Blog Radar Político - Estado de São de Paulo. Disponível em:  http://blogs.estadao.com.br/radar-politico/

domingo, 16 de outubro de 2011

A História de Luis Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, por Anita Leocadia Prestes

Olga Benário Prestes e Luiz Carlos Prestes, meus pais

Por Anita Leocadia Prestes



"A felicidade consiste na consciência do dever cumprido."

Tive o privilégio de ser filha de Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, duas pessoas extraordinárias, que deram suas vidas por uma causa nobre. Dois combatentes revolucionários que se dedicaram inteiramente à luta por justiça social, por liberdade, pelo socialismo e por um futuro melhor para a humanidade.

Olga, grávida de sete meses, foi deportada para a Alemanha nazista pelo governo Getúlio Vargas, em setembro de 1936. Companheira dedicada de Luiz Carlos Prestes, meu pai, a quem salvara a vida de ambos quando foram presos, pela polícia de Filinto Muller, em 54 de março daquele ano, no subúrbio carioca do Méier. na ocasião, ela se interpusera corajosamente entre os policiais e o marido, impedindo seu assassinato.

A deportação de Olga Benário Prestes e Elise Ewert – ambas militantes comunistas alemãs – foi um gesto de boa vontade de Vargas em relação a Hitler, expressando a aproximação então em curso entre os dois governos. Foi também vingança e castigo cruel impostos ao grande inimigo do regime varguista – Luiz Carlos Prestes, o "Cavaleiro da Esperança" para tantos brasileiros. Olga e Elise viajaram ilegalmente, sem culpa formada, sem julgamento nem defesa. Na calada da noite foram embarcadas no navio cargueiro La Coruña, que partiu rumo a Hamburgo com ordens expressas de não parar em nenhum outro porto estrangeiro, pois havia precedentes de os portuários franceses e espanhóis resgatarem prisioneiros deportados para a Alemanha.

Minha mãe ficou presa incomunicável na prisão de mulheres Barminstrasse (Berlim), onde nasci, em novembro de 1936. Como resultado de importante e vigorosa campanha internacional pela libertação de Prestes e dos presos políticos no Brasil, assim como de Olga e de sua filha, fui entregue pela Gestapo à minha avó paterna – Leocadia Prestes – mulher valente e decidida, que encabeçava a campanha. Quando me separaram de minha mãe contava com apenas 14 meses de idade. Não pude, portanto guardar nenhuma lembrança dela. Logo depois, Olga seria transferida para outra prisão, em condições muito piores, e mais tarde para o campo de concentração de Ravensbruck. Em abril de 1942, era assassinada numa câmara de gás no campo de Bernburg.

A tragédia que atingiu meus pais marcou minha vida. De que maneira? Poderia ter me tornado uma pessoa amargurada e decrescente da humanidade, convencida de sua maldade intrínseca. Ou poderia ter me levado a pensar que os homens, embora em sua maioria não sejam maus, facilmente se deixam arrastar pela maldade de alguns. sendo assim, não haveria por que acreditar no progresso da humanidade, não existiriam razões para qualquer otimismo em relação ao seu futuro.

Cresci e fui educada no seio de uma família comunista – a família de meu pai, que só pude conhecer em 1945, quando ele, após nove anos de prisão, num isolamento quase total, afinal foi libertado. Minha avó Leocadia, minha tia Lygia, que acabou sendo minha segunda mãe, meu próprio pai, minhas outras tias conduziram-me por outro caminho. Desde a mais tenra idade, foi-me mostrado o exemplo de meus pais – dois revolucionários comunistas que passaram por indescritíveis sofrimentos em nome da causa maior, a causa da emancipação da humanidade da exploração do homem pelo homem. ou seja, nas palavras de Karl Marx, lutavam para que a humanidade ultrapassasse sua pré-história, ingressando na verdadeira história, fase em que seriam superadas as injustiças e desigualdades sociais, em que não mais existiria a alienação dos homens.

Desde cedo, aprendi com a vida de meus pais, com o exemplo de minha avó e, em especial com a martírio de Olga, que vale a pena lutar por um mundo melhor para toda a humanidade. Aprendi que não devemos compactuar a com a injustiça, que é necessário lutar contra ela e que, apesar de todas as dificuldades, das derrotas e sofrimentos, dos erros e dos fracassos, a humanidade caminha para a frente, e os homens encontram maneiras de aperfeiçoar seus modos de viver. Hoje, na qualidade de historiadora que sou, entendo que esses ensinamentos recebidos na infância são verdadeiros: a história da humanidade nos mostra que o progresso é a tendência geral das sociedades humanas, embora se realize através de múltiplos e imprevisíveis retrocessos momentâneos, que por vezes podem lutar muito, levando em conta o quanto a vida humana é efêmera.

Em suas cartas enviadas do cárcere, meu pai revela a preocupação de que eu soubesse de que ele nem Olga se sentiam infelizes com a sorte que o destino lhes reservara. Pelo contrário, apesar dos sofrimentos, apesar da imensa tristeza de se encontrarem separados um do outro, longe da filha e dos que mais amavam, consideravam-se felizes por terem consciência do dever cumprido. E nisso, para eles, consistia a mais completa felicidade.

Da mesma forma, minha mãe, nas poucas cartas que conseguiu mandar do cativeiro, expressava o desejo de que eu fosse uma criança feliz e alegre, orgulhosa de meus pais se terem empenhado na luta por um mundo melhor, sem queixas nem arrependimentos. Seu sacrifício não era maior do que o de milhões de outros seres humanos que, naquele momento, enfrentavam os horrores da noite fascista que se abatera sobre a nossa civilização.

Havia, contudo, uma diferença importante. meus pais, distintamente de milhões de inocentes que sofriam e morriam sem conhecer as causas de tamanha desgraça, tinham consciência do fenômeno fascista e do seu perigo para a humanidade. Por isso, haviam lutado contra ele com todas as suas energias. derrotados, arcavam com as conseqüências de seu gesto. Mantinham-se, porém, confiantes de que o fascismo e sua variante alemã – o nazismo – seriam vencidos, como de fato se verificou, com a derrota dos países do eixo, no final da segunda guerra mundial.

Sua confiança decorria da profunda convicção científica que ambos haviam adquirido ao estudar o marxismo e ao travar conhecimento com a experiência pioneira de construção de uma sociedade socialista na União Soviética. A teoria marxista do socialismo científico lhes permitia compreender que o fascismo não podia ser explicado pela loucura de um homem ou pelas tradições autoritárias ou militaristas de algumas sociedades. O fenômeno fascista expressava basicamente a crise que o sistema capitalista atravessava nos anos 30, representava a resposta do grande capital ao avanço do movimento operário em países como a Itália e a Alemanha.

A construção do socialismo na URSS lhes mostrava a superioridade desse sistema social em comparação o capitalista. Apesar de imensas dificuldades enfrentadas pelo povo soviético, sitiado pelas potências imperialistas, as grandes conquistas do socialismo já eram visíveis através da realização concreta dos direitos sociais alcançados pelos trabalhadores. Nenhum país capitalista fora capaz de resolver como em poucos anos fizera o primeiro país socialista.

Naqueles anos terríveis, quando o fascismo tomava conta da Europa e a guerra revelava toda a sua crueldade, poucos acreditavam na possibilidade de sua derrota. Posso orgulhar-me de que minha família - meus pais, minha avó Leocadia, minhas tias, conhecedora da fibra do povo soviético, jamais tenha duvidado de sua vitória no grande conflito que sacudiu o mundo. Essa confiança, aliada à compreensão do caráter profundamente retrógrado do fascismo, que o condenava, portanto, ao desaparecimento, permitiram aos meus pais resistir, com firmeza e sem perder as esperanças, às terríveis provações a que foram submetidos durante aqueles anos tormentosos.

Segundo os testemunhos de companheiras do campo de concentração, Olga jamais se entregou ao desespero nem ao conformismo, lutou até o último momento de sua curta vida, infundindo coragem e confiança no futuro em todos aqueles que a rodeavam. Meu pai saiu da prisão para a luta; seu objetivo jamais foi a vingança, mas a conquista de um futuro melhor para o nosso povo e para a humanidade. foi a esta causa generosa que ele dedicou o restante de sua vida.

Anita Leocadia  Prestes


Entrevista de Anita Leocadia Prestes à TV Câmara