quarta-feira, 17 de outubro de 2012

“No Brasil não existem políticas públicas de acessibilidade em ambientes culturais”


Fonte da imagem: Portal Mara Gabrilli 

A técnica em cultura Márcia Beatriz trabalha pela inclusão cultural de pessoas com deficiência
Desde muito cedo, a mãe de Márcia Beatriz dos Santos percebeu que havia algum problema nos olhos da filha. Depois de consultar muitos médicos, veio o diagnóstico: glaucoma congênito. Na época, ainda criança, Márcia já não tinha a visão do olho direito e um percentual muito baixo no esquerdo. Aos onze meses de idade, ela já dava início à primeira de muitas cirurgias.
Hoje, já formada em Ciências Sociais e trabalhando na Secretária Municipal da Cultura de Porto Alegre, Márcia tornou-se responsável por uma pesquisa sobre Acessibilidade em Museus. Apaixonada por arte, usou sua experiência para ampliar o acesso de outras pessoas com deficiência aos equipamentos culturais da cidade.
Portal Mara Gabrilli: Como foi concluir a graduação em Ciências Sociais depois que havia perdido totalmente a visão? Você precisou da instituição para lhe garantir algum tipo de apoio para concluir o curso?



Márcia Beatriz dos Santos - Sempre frequentei a escola regular, sem utilizar recursos para baixa visão, uma vez que eu não era identificada como tal e, além disso, na década de 70 as escolas não propiciavam atendimentos diferenciados para as pessoas com deficiência. Quando ingressei na universidade ainda conseguia escrever e ler se a folha estivesse muito próxima de meu rosto. Porém, nos últimos semestres foi aumentando minha dificuldade e comecei a utilizar leituras realizadas por voluntários, textos gravados e provas orais. Tive todo o apoio da coordenadora do curso para que eu pudesse realizar o Trabalho de Conclusão de Curso em Ciências Sociais. No entanto, a instituição não oferecia recursos para o ensino de pessoas com deficiência visual, o que, atualmente, é uma realidade.

Somente após concluir a graduação frequentei o Centro Louis Braille para aprender o Sistema Braille, locomoção e mobilidade e a legislação para pessoas com deficiência. Nessa época, conheci outras pessoas com deficiência visual, o que propiciou a vivência e a troca de experiências, assim como possibilitou a diminuição da ansiedade que circundava aquele momento que eu estava vivendo. Isso foi possível através do compartilhamento de angústias com pessoas que passavam pelas mesmas e/ou parecidas dificuldades que eu estava encontrando para ingressar no mundo do trabalho.
PMG: Você é funcionária da Prefeitura de Porto Alegre. Como foi fazer a prova para o concurso? Contou com algum recurso de acessibilidade para realizar o exame?



Márcia - Um ano após a conclusão da graduação, realizei o concurso para Técnico em Cultura da Secretaria Municipal da Cultura da Prefeitura de Porto Alegre. Minha dificuldade começou no momento da inscrição, quando era obrigatória a apresentação do atestado médico com a Classificação Internacional de Doenças (CID). Porém, o médico que acompanhava meu tratamento não atestava minha cegueira e, ao mesmo tempo, a comissão do concurso não aceitava o laudo que ele estava enviando. Após apresentar três atestados desse mesmo médico tive minha inscrição homologada. Para a realização da prova contei com um “ledor” que realizava a leitura da prova. Esse recurso possibilitou que o exame fosse desenvolvido tranquilamente, pois a pessoa respeitou meu ritmo.

PMG: Hoje, o índice de participação de candidatos com deficiência em concursos públicos no País é inferior a 5%. Na sua opinião, a que deve essa participação tão baixa?



Márcia – Acredito que a baixa participação de candidatos com deficiência nesses concursos se deve, primeiramente, à dificuldade de aceitação da deficiência pela família que, com o intuito de proteger o deficiente, não estimula a inserção deste no mercado de trabalho. Da mesma forma, o ensino que hoje é oferecido para as pessoas com deficiência, em muitos casos, não as qualifica para concorrer em concursos públicos. Além disso, muitas pessoas que adquirem uma deficiência não são adequadamente reabilitadas, dificultando muitos aspetos da vida, e, principalmente, o retorno ao trabalho. Por fim, é importante destacar, a grande maioria das pessoas com deficiência desconhece a legislação sobre a reserva de mercado.

PMG: Como é a acessibilidade na cidade de Porto Alegre? E as opções de cultura para a população com deficiência?



Márcia – Porto Alegre, desde 1994, vem desenvolvendo projetos de acessibilidade na cidade, horas com mais intensidade, horas com menos. Atualmente, como nas demais cidades, o tema está em voga. No município, há uma frota parcial de ônibus adaptados, alguns adequados e outros não. Algumas ruas contam com rampas e/ou piso podotátil, e prédios foram adaptados, entre eles o Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo. Diante disso, percebe-se que o tema necessita ser aprofundado, já que recebe ênfase em aspectos estruturais, ignorando-se, muitas vezes, aspectos comunicacionais e atitudinais.

No entanto, há uma tentativa de melhorar esses aspectos que apresentam falhas. Na área cultural, vários espetáculos foram realizados com acessibilidade plena para pessoas com deficiência. Destaca-se o espetáculo “Tangos e Tragédias”, em cartaz nas temporadas de verão de Porto Alegre desde a década de 80, o qual teve uma sessão com audiodescrição, sendo possível através desse recurso que pessoas cegas ou com baixa visão entrassem em contato com o espetáculo. Elas puderam conhecer o ambiente do Teatro São Pedro, o cenário, a iluminação, a caracterização, os gestos, a movimentação e as expressões dos atores. Também o espetáculo adulto “Inimigos de Classe” do diretor Luciano Alabarse teve uma de suas apresentações audiodescrita, possibilitando o acesso pleno das pessoas com deficiência visual ou baixa visão a todo o conteúdo visual do espetáculo: cenário, figurinos, luz, caracterização dos personagens e suas expressões, gestos e movimentos em cena. O filme “Menos que Nada”, longa de ficção com direção de Carlos Gerbase, teve uma sessão audiodescrita em cinema, além de contar com audiodescrição no DVD e legendas em português para surdos. Percebe-se, com isso, que o futuro na área de acessibilidade em ambientes culturais é promissor. Entretanto, as atividades realizadas ainda são pontuais, provavelmente devido à falta de informações de produtores e diretores a respeito da acessibilidade para pessoas com deficiência. É importante destacar ainda que a empresa Mil Palavras Acessibilidade Cultural, em parceria com o Centro Cultural CEEE Erico Verissimo, promoveu curso de capacitação em audiodescrição, com ênfase na formação de profissionais, para que venham a atuar como audiodescritores roteiristas, narradores e consultores, através de noções sobre a deficiência visual, de um conhecimento amplo sobre o recurso da audiodescrição e de uma série de experiências práticas.

PMG: Por que decidiu fazer uma pesquisa sobre Acessibilidade em Museus?



Márcia – Sempre tive uma participação na vida cultural de Porto Alegre, pois desde jovem me interesso por teatro, cinema, literatura e museus. No entanto, tive algumas dificuldades para acessar os espetáculos, pois os locais não ofereciam recursos acessíveis para pessoas com deficiência visual. No momento em que fui trabalhar no Museu de Porto Alegre Joaquim José Felizardo, equipamento da Coordenação da Memória Cultural – Secretaria Municipal da Cultura –, deparei-me com uma diretora sensível às questões de acessibilidade, a qual convidou-me para cursar aEspecialização Patrimônio Cultural e Identidade na Universidade Luterana do Brasil/ULBRA Canoas, local onde ela leciona. A pesquisa intitulada “Acessibilidade em museus: o caso do Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo” é fruto de minha monografia de conclusão de curso, que teve orientação da Profª. Drª. Maria Angélica Zubaran, diretora do Museu. Para a realização desse estudo, fiz visitas técnicas em instituições museológicas como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte Moderna – MAM e o Museu do Futebol Pacaembu, consideradas referências nacionais em acessibilidade, com o intuito de conhecer e apropriar-me das ações de acessibilidade, para uma possível implementação no Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo.

PMG: Que resultados esse estudo apontou?



Márcia - De acordo com o objetivo central realizou-se um diagnóstico da acessibilidade no Museu de Porto Alegre Joaquim Felizardo, apontando possíveis estratégias para ampliar o acesso de pessoas com deficiências nessa instituição e melhor adequá-la à legislação vigente, de forma a torná-la referência em acessibilidade no Rio Grande do Sul. Conforme se observou no decorrer deste estudo, o Museu é considerado adaptado em relação à acessibilidade. A partir da análise dos documentos da instituição, verificou-se que no ano de 2002 foram realizadas adaptações no aspecto físico do edifício em que se localiza o Museu, tais como instalação de elevador, banheiro adaptado e maquete tátil do solar Lopo Gonçalves, construído entre os anos de 1845 e 1850, prédio onde se localiza o Museu Histórico de Porto Alegre. Notou-se, contudo, que no aspecto sensorial as normas de acessibilidade não são plenamente atendidas, fazendo com que 42% da instituição seja classificada como não acessível e 46% como acessível.

PMG: O que foi permitido desenvolver com base na pesquisa? 



Márcia - Esses resultados embasarão a implementação de projetos que visam atender de maneira mais completa ao público com deficiência. Isso está sendo realizado através de ações, como: a oficina “Conhecendo Porto Alegre através dos sentidos”, na qual o público com deficiência visual utiliza-se do audioguia para conhecer a exposição denominada “O Solar que virou Museu - memórias e histórias”, através da leitura dos painéis e da descrição das imagens e dos objetos históricos e arqueológicos que compõem a exposição. Além disso, o catálogo que complementa essa mostra está disponível em braille, possibilitando a autonomia do público. Também foi realizada a restauração da maquete tátil, a confecção de uma maquete da fachada do solar, destacando os detalhes do prédio e a reprodução da magnólia, árvore centenária que se localiza em frente ao Museu. Esses materiais, juntamente com alguns objetos históricos e arqueológicos, estão disponíveis ao toque. Destaco, ainda, que o Museu conta com uma equipe - direção, recepção, funcionários e estagiários -, preparada para se relacionar, conduzir e orientar esse público com deficiência dentro da instituição, mantendo assim uma postura inclusiva para desenvolver este projeto.

PMG: Que recursos acessíveis você considera importantes para que o cego ou a pessoa com deficiência visual interaja plenamente com a arte?



Márcia – Vários recursos acessíveis são importantes para que a pessoa com deficiência visual interaja com a arte. No cinema e no teatro, a audiodescrição. Em exposições destaco o audioguia, objetos ou réplicas disponíveis ao toque e maquete tátil do edifício da instituição, sendo essa a única forma de apreensão espacial que a pessoa com deficiência visual possui de um edifício. Ainda é importante a instalação de piso podotátil para facilitar a locomoção e a sinalização com etiquetas em Braille dos locais e dos objetos que compõem uma exposição. Através desses recursos, a pessoa com deficiência visual tem autonomia para acessar plenamente ambientes culturais e debater conteúdos que emergem após assistir algum espetáculo ou visitar uma mostra.

PMG: O que o Poder Público tem feito para promover acessibilidade na cultura?



Márcia – No Brasil não existem políticas públicas de acessibilidade em ambientes culturais. Esta ausência tem dificultado a inclusão das pessoas com deficiência na sociedade. Em Porto Alegre, porém, destaco algumas atividades pontuais que foram realizadas pelo poder público no último ano. A Prefeitura de Porto Alegre, através da Secretaria Municipal da Cultura – Coordenação da Memória Cultural, realizou a abertura da exposição "O Solar que virou Museu – memórias e histórias", com audioguia, integrando as comemorações dos 240 anos de Porto Alegre. Através do Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre (FUMPROARTE), esta secretaria vem promovendo, no ano de 2012, a acessibilidade das pessoas com deficiência visual à produção artística e cultural, financiadas com os recursos desse fundo. Destaca-se a peça “Nossa vida não vale um Chevrolet”, realizada no mês de abril, sendo esse o primeiro espetáculo de cinco projetos já selecionados com audiodescrição. Nesse mês, também ocorreu o espetáculo de dança aérea com audiodescrição.

A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2011, no Salão de Atos da Reitoria realizou audiodescrição de “Exotique”, do Grupo Tholl, um espetáculo de circo-teatro, grandioso, intenso e absolutamente visual, com figurinos muito elaborados, elegantes, luxuosos e constantes jogos de luz. Uma bela história, contada através de malabarismos, acrobacias, contorcionismo e equilibrismo. Os espectadores com deficiência visual chegaram meia hora antes do início do espetáculo e tiveram a oportunidade de subir no palco para conhecer o elenco. Tocaram em seus figurinos e cada um dos 17 artistas descreveu o que estava vestindo e falou um pouco sobre seu personagem.
A UFRGS, a partir de março de 2012, vem exibindo filmes com audiodescrição uma vez por mês. Trata-se do projeto de extensão com audiodescrição: “Sessões com Audiodescrição na Sala Redenção de Cinema Universitário”. Além disso, promoveu, no mês de maio, o II Seminário Nacional de Acessibilidade em Ambientes Culturais com conferências, mesas-redondas e oficinas de profissionais e pesquisadores da área de acessibilidade cultural. Destaco a oficina realizada no Museu da UFRGS com kit pedagógico acessível da exposição “Oretataipy” com esculturas de animais disponíveis ao toque e cartilhas em Braille com a descrição das esculturas e das imagens dos cartões postais, além de documentário em DVD com audiodescrição.
Também a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com Deficiência promoveu em Porto Alegre a exposição “PARA TODOS – Movimento Político das Pessoas com Deficiência”, que se propõe a apresentar para o público a história dessa trajetória, de maneira acessível, inclusiva.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Arroio Dilúvio: Passado, Presente e Futuro


Essencial versus Futilidades



Hoje é o Dia Mundial da Alimentação, um data que me remete a uma série de reflexões. Estamos num país cujo slogan oficial do Governo Federal é "País Rico é País Sem Pobreza". Tudo muito bonito! Mas nesta ocasião, na condição de historiador, sinto-me obrigado a desafar. 

Quando erronaemante as pessoas leigas associam o historiador como um sujeito que não pensa no presente e que está preso ao passado, contrapondo esta visão que é fruto do desconhecimento do ofício do historiador, é que digo caros litores deste blog que me veio a  mente aquela música do Chico Buarque e MPB4 "Roda Viva". Vivemos uma grande roda viva! Se nos tempos da Revolução Francesa o pão, ou sua ausência, foi o estopim da eclosão deste fato que transformou a História Política e Social do Mundo, ainda vemos neste mundo "pós-moderno" a alimentação sendo um privilégio e não um direito! Triste constatação! Passam-se os tempos, mudam-se as classes sociais, e não se altera o quadro da predominância do fútil sobre o essencial. 

Os descamisados apontados pelo ex-presidente Collor estão aí. Hoje pela manhã ao ouvir algumas notícias, que é um costume meu de todos os dias, escutei o repórter dizendo "Hospital de Clínicas de Porto Alegre", ao coletar o depoimento de uma senhora que estava com a sua irmã com câncer e que o ambiente hospitalar era tão precário que até mesmo a higiene fazia falta naquele espaço é que percebi que vivemos uma época em que os direitos humanos essenciais estão pagando mensalões, salários altissímos de políticos. 

O grande caos no Brasil se dá pela falta do essencial, enquanto se discute a Copa do Mundo, ao lado vemos uma educação, saúde, transporte, entre tantos direitos do cidadão sendo desrespeitados todos os dias! Até quando? Será uma utopia sonharmos com um Dia da Alimentação, onde as pessoas estejam saciadas não só com o pão francês, mas com dignidade integral do ser humano.

Série Pensadores: Albert Einstein


quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Blog Falando de História Finalista no 2ª turno do Prêmio Top Blog


Agradecemos a todos pelo prestígio ao Blog Falando de História. Estamos honrados pela menção entre os 100 blogs mais lembrados na categoria "Arte e Cultura" do Prêmio TopBlog. A todos que votaram em nós, o nosso muito obrigado.

O Prêmio TopBlog é um sistema interativo de incentivo cultural criado no ano de 2008 pela Insere Comunicação Web Ltda, destinado a reconhecer e premiar, mediante a votação popular (Internauta), e acadêmica (Júri acadêmico TOPBLOG), os blogs brasileiros mais populares, que possuam a maior parte de seu conteúdo focado para o público brasileiro, com melhor apresentação técnica específica a cada grupo e categoria descritos neste regulamento. O objetivo do Prêmio TopBlog é promover, divulgar e apoiar a iniciativa dos proprietários de blogs, que interagem socialmente pela rede internet, com finalidade de compartilhar seus conhecimentos, ideias, experiências e perspectivas, contribuindo solidariamente com o desenvolvimento social e cultural do Brasil.

A eleição do Prêmio TopBlog 2012 será realizada em DOIS TURNOS, com diferentes critérios de pontuação e avaliação: Durante os períodos de votação, os internautas poderão escolher e votar em um ou mais candidatos (BLOGs) de diferentes grupos e categorias, considerando-se válido apenas UM voto por identificação digital (email, facebook e twitter).

Agora o Blog FH está concorrendo o segundo turno desta premiação.

ATENÇÃO: Os votos do PRIMEIRO TURNO não serão computados para o SEGUNDO TURNO, assim sendo serão zerados os votos dos selecionados TOP100 quando passam para a segunda fase TOP3, concorrendo todos os cem mais votados no primeiro turno, em igualdade no segundo turno.

Histórias do Poder - 1º episódio Partidos, Alianças e Frentes


Descrição do documentário: Da República Velha (1889-1930) ao governo Collor, o documentário analisa fatos relevantes de nossa história política, entre eles o governo de Juscelino Kubitschek (1956-1960), de Jânio Quadros (1961), de João Goulart (1961-1964), o golpe de 1964, o multipartidarismo dos anos 1980, o movimento das Diretas Já, a Constituição de 1988, entre outros temas. 

Estudiosos e políticos como Fernando Henrique Cardoso; Maria Aparecida de Aquino, professora de História da USP; Sandra Cavalcanti; Marilena Chauí, entre outros, falam das alianças partidárias, comuns na história política brasileira, e da ideologia dos partidos políticos.

Título: Histórias do Poder
Autor: TV Câmara
Categoria: História
Idioma: Português
País: Brasil

Documentário Collor - TV Cultura

quinta-feira, 4 de outubro de 2012

O século de Hobsbawm – por Vladimir Safatle


O Blog Povos.Brasil publicou o texto de Vladimir Safatte intítulado* "O século de Hobsbawm". O artigo publicado originalmente jornal Folha de São Paulo, em 2/10/2012..

. O professor Safatle, neste texto faz uma observação a obra deste grande nome da historiografia do século XX:

Sem medo de procurar processos nos quais rupturas socioeconômicas e produção de novas ideias de cunho universalista se entrelaçam, Hobsbawm soube, como poucos, mostrar como a história da modernidade ocidental sempre foi a história das revoluções.
Destacamos este pequeno trecho, mas o artigo em sua totalidade deve ser lido e refletido. Segue o link da publicação: http://provosbrasil.blogspot.com.br/2012/10/o-seculo-de-hobsbawm-por-vladimir.html


_______
* Safatle é professor livre-docente do Departamento de Filosofia da USP

O que fazer com o dilúvio de informações da internet?


O filósofo francês Pierre Lévy participou do programa Roda Viva da TV Cultura de São Paulo em 2001 e comentou o dilúvio de informações em que as pessoas vivem hoje: "No fundo, na arca de Noé, havia um resumo do conjunto de animais que ia desaparecer. E uso essa imagem no livro [Cibercultura] para dizer que, hoje, é impossível fazer um resumo do todo. Não podemos mais abraçar o todo, porque ele tornou-se uma coisa infinita".

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Morre aos 95 anos o historiador Eric Hobsbawm

O historiador britânico Eric Hobsbawm morreu nesta segunda-feira (1º) aos 95 anos no hospital Royal Free de Londres, informou sua família. Ele sofria de pneumonia.

Sua filha, Julia Hobsbawm, disse que "Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã em Londres". "Ele fará falta não apenas para sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo", disse. "Até o fim, ele estava se esforçando ao máximo, ele estava se atualizando, havia uma pilha de jornais em sua cama", completou a filha.

O intelectual marxista é considerado um dos maiores historiadores do século XX e escreveu "A era das revoluções", "A era do capital", "A era dos impérios", "Era dos extremos", entre outras obras. Ele também era um entusiasta e crítico do jazz, escrevendo resenhas para jornais sobre o gênero musical e publicando o livro "História social do jazz".

Trajetória

Eric Hobsbawm durante uma feira do livro em Leipzig, em 1999 (Foto: Eckehard Schulz/AP)
Eric Hobsbawm durante uma feira do livro em
Leipzig, em 1999 (Foto: Eckehard Schulz/AP)
Hobsbawm nasceu de uma família judia em Alexandria, Egito, em 9 de junho de 1917. Ele cresceu em Viena, Áustria, e em Berlim, Alemanha.
Quando era estudante na Alemanha, Hobsbawn informou o diretor da escola que ele era comunista e argumentou que o país precisava de uma revolução.
"Ele me fez umas perguntas e disse 'Você claramente não faz ideia do que está falando. Faça o favor de ir à biblioteca e veja o que consegue descobrir'", disse em uma entrevista à BBC em 2012. "E então eu descobri o Manifesto Comunista [de Karl Marx] e foi isso", relatou, indicando o começo de sua formação marxista.
Em 1933, quando Hitler começava a subir no poder na Alemanha, Hobsbawm foi para Londres, Inglaterra, onde obteve cidadania britânica.
O historiador se filiou ao Partido Comunista da Inglaterra em 1936 e continuou membro da legenda mesmo após o ataque das forças soviéticas à Hungria em 1956 e as reformas liberais de Praga em 1968, embora tenha criticado os dois eventos. O ex-líder do Partido Neil Kinnock chegou a chamar Hobsbawm de "meu marxista predileto".

Durante a II Guerra Mundial, Hobsbawm foi alocado a uma unidade de engenharia que a presentou a ele, pela primeira vez, a classe proletária. "Eu não sabia muito sobre a classe proletária britânica, apesar de ser comunista. Mas, vivendo e trabalhando com eles, pensei que eram boas pessoas", disse à BBC em 1995.

O historiador aprovou neles a "solidariedade, e um sentimento muito forte de classe, um sentimento de pertencer junto, de não querer que ninguém os derrubasse".

Vida acadêmica
Hobsbawm estudou no King's College de Londres e começou a dar aula na Universidade de Birkbeck em 1947, mais tarde tornando-se reitor da instituição. Ele também passou temporadas como professor convidado nos Estados Unidos e lecionou na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel.

Em 1998, ele recebeu o título de Companhia de Honra. O prêmio, raramente concedido a historiadores, o colocou ao lado de ilustres como Stephen Hawking, Doris Lessing and Sir Ian McKellan.

Seu colega historiador A.J.P. Taylor, morto em 1990, disse que o trabalho de Hobsbawm se destacava pelas explicações precisas dos acontecimentos pelo interesse em pessoas comuns.
"A maior parte dos historiadores, por uma espécie de mal da profissão, se interessa somente pelas classes mais altas e pressupõem que eles mesmos fariam parte destes privilegiados se tivessem vivido um século ou dois atrás - uma possibilidade muito remota", escreveu Taylor. "A lealdade do Sr. Hobsbawm está firmemente do outro lado das barricadas", disse.

Obras

O primeiro livro de Hobsbawm, "Rebeldes primitivos", publicado em 1959, é um estudo dos que ele chamava de "agitadores sociais pré-políticos", incluindo ligas de camponeses sicilianos e gangues e bandidos metropolitanos, um exemplo de seu interesse pela história das organizações da classe trabalhadora.

Em 1962, ele publicou o primeiro de três volumes sobre o que chamou de "o longo século XIX", cobrindo o período entre 1789, ano da Revolução Francesa, e 1914, começo da I Guerra Mundial.

O volume seguinte, "Era dos extremos", retratou a história até 1991, o fim da União Soviética, foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.

No mesmo ano, ele escreveu uma obra sobre jazz e começou a colaborar como crítico para a revista "New Statesman" usando o pseudônimo Francis Newton, em homenagem ao trompetista comunista de Billie Holiday.

Seu último livro é "Como mudar o mundo", de 2011, e é um compilado de textos escritos desde a década de 1960 sobre Karl Marx e o marxismo.

De acordo com o jornal britânico "The Guardian", ele tem um livro em revisão a ser publicado em 2013.

Ele veio ao Brasil em 2003 participar da primeira edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), evento do qual foi estrela.