segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Reflexões sobre o ofício de historiador no Brasil e o papel da ANPUH

Por Noé Gomes*

Prezados leitores,

Tenho  esboçado há meses esta postagem, explico-me: não quero ser autobiográfico ou até mesmo um holofote de polêmicas. Quero sim, trazer reflexões novas e propor uma alternativa ao cenário profissional para nós graduados em História. Estas palavras são dirigidas especialmente a você que como eu sente um certo desânimo ao ver as opacas oportunidades de atuação profissional. Hoje, Dia do Historiador, seria um dia de  festa, de confratenização ou uma data de reflexão? 

Repensar é preciso!
Penso que a segunda alternativa urge no nosso contexto atual! Como é de domínio público, a profissão de historiador não é regulamentada. O seu primeiro de projeto de regulamentação se deu ainda nos anos 1960, de lá pra cá inúmeros projetos que redundaram em arquivamento. Atualmente tramita na Câmara dos Deputados em Brasília,  o PL 4699/2012,  de fato uma conquista histórica, já que os outros projetos de leis não conseguiram ir tão avante quanto este. Talvez a regulamentação seja uma questão de tempo. Mas o que isso interfere em nosso cotidiano?

Vamos partir das possibilidades atuais para graduados e graduandos: sala de aula ou sala de aula ou quem sabe um estágiozinho em uma  instituição com algum "figurão" que possa se tornar um "QI" e assim se dá o cenário para quem quer atuar na área de história no Brasil. Mas alguém perguntará, mas não há centros de pesquisa, instituições que oportunizem espaços para os graduandos e graduados? Sim, sei  que há muita gente de nível avançado que abre  as portas para aqueles que estão iniciando, mas o problema vai mais além disso. No meu humilde ponto de vista, a regulamentação da nossa  profissão não tem sido discutida na base. Falo de nós professores de Ensino Fundamental e Médio, estamos alheios a este processo bem como os graduandos. Isso parece a inversão total da  lógica deste processo. Explico-me mais uma vez: o que adianta a regulamentação de um ofício, sem uma conscientização classista? Sem uma identidade de classe será mais uma lei que talvez não seja cumprida! 


Fazer rupturas é preciso!!!
Daí é que penso honestamente que é preciso olhar o cenário de atuação de quem quer seguir os ofícios de Clio de uma maneira realista e crítica. O que vou propor talvez seja encarado como uma atitude extremista, mas penso que honestamente é preciso que seja feito algo, sob pena de termos uma regulamentação "morta" e sem sentido por si só. Proponho um repensar do papel da ANPUH e a criação do Conselho Nacional de História!

Hoje, eu pergunto sinceramente e não vejo a ANPUH como um órgão que de fato representa a totalidade dos historiadores brasileiros. Me parece ser um feudo, que privilegia os mestres e doutores especialmente os vinculados às universidades federais. Se um graduado quiser criar um GT por exemplo, não pode fazer isso. Essa normativa é democrática? Sem falar que graduandos não podem fazer parte de seu  quadro associativo. A ANPUH que se calou nos tempos da ditadura não me representa! Falo isso com tristeza, pois queria uma associação que me oportunizasse novas possibilidades acadêmicas e profissionais, mas não recebi isso em dois anos que integrei o seu quadro associativo. Fiz parte do GT Acervos da ANPUH Seção Rio Grande do Sul. sei que dei o meu melhor, porém não fui reconhecido exatamente por ainda não possui um Me ou Dr. Não quero ser venerado como um deus,  só exijo que me tratem como historiador assim como os professores que já estão em níveis superiores. Respeito demais a trajetória destes profissionais, mas quero que olhem os graduados e graduandos como as sementes de um futuro próximo e não como são hoje, a mercê do processo.

Contra a marginalização dos graduados e graduandos é que proponho que seja feita a discussão nas reuniões pedagógicas das escolas do PL 4699, afinal de contas isso é de nosso interesse e não adianta é preciso fazer um olhar a isso. Sei que irá dar trabalho, que estamos saturados de tantas quizilas nas escolas, mas é preciso fazer esta discussão, caso contrário, estaremos promovendo uma regulamentação sem o componente mais importante: a legitimação de nosso ofício a sociedade e a nós mesmos! Visualizo o Conselho Nacional de História como a única alternativa ao encastelamento de vaidades da ANPUH! E arrisco a proposição de quem sabe juntarmos força e criarmos a Associação Nacional dos Graduandos e Graduados em História. por que não? 

O que resta-me é não ficar em silêncio perante tudo isso que vivo. Pois quem cala consente, quem se esconde não vence, quem não tem lado, não merece respeito e por conseguinte quem mantém o status quo é tão deplorável. quanto aqueles que idealizaram toda esta coisa que já veio malhada antes de eu nascer. Parafraseando mais uma vez Cazuza: "Historiador, mostra a tua cara!" 

Viva nós amantes e profissionais do Campo de Clio! Feliz Dia do Historiador!
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* Editor e idealizador do Blog Falando de História. Professor da Rede Pública do Estado do RS. Licenciado e Bacharel em História pela Universidade Luterana do Brasil (ULBRA)

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