Por Carlos Etchichury
Professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), Vera Paiva, 58 anos, saía de uma sala de aula quando conversou com Zero Hora, no início da noite desta quarta-feira, sobre documentos reveladores acerca do desaparecimento de seu pai, ex-deputado Rubens Paiva (PTB), 41 anos atrás.
— Fiquei completamente arrepiada com os materiais apreendidos. É como se o meu pai se materializasse na minha frente, de paletó e gravata, saindo de casa — disse Vera, ao tomar conhecimento do documento que, pela primeira vez, oficializa a passagem de Paiva pelo DOI-Codi, no Rio de Janeiro.
Vera era adolescente quando Rubens Paiva foi visto pela última vez, no Rio. Conduzido por militares em 20 de janeiro de 1971, o ex-parlamentar do PTB teria sido levado para a sede do DOI-Codi, no dia seguinte.
— Espero que essa revelação puxe outros fios e que as pessoas se comovam para resolver o problema da tortura no Brasil — complementa Vera.
Irmão de Vera, o escritor e dramaturgo Marcelo Rubens Paiva definiu como "chocante" o teor do documento lido para ele pela reportagem de ZH:
— Eu tô vendo o meu pai... Eu já vi essa cena na minha cabeça umas 7 mil vezes: meu pai chegando ao DOI-Codi.
Marcelo Rubens Paiva, filho do ex-deputado Rubens Paiva do PTB. Foto: Felipe Hellmeister, Divulgação: Zero Hora.com |
"Sempre é a imprensa que conta a história", diz o filho Marcelo
Para Marcelo, é revelador do estágio da democracia no país e do papel relevante da imprensa.
— É a prova cabal de que a Comissão da Verdade é mais do que útil e precisa trabalhar. Não podemos deixar o acaso contar a história. A história precisa ser contada através de investigação, de apuração. Nunca é o Estado que está revelando. Foi através de jornalistas que nós soubemos do desaparecimento do meu pai. Sempre é a imprensa que conta a história — observou Marcelo.
Na opinião do escritor, trata-se de uma prova "contundente" de que o ex-deputado Rubens Paiva esteve preso no DOI-Codi.
— E aí? Cadê? O que aconteceu com ele? — complementa.
As revelações do acervo do coronel Julio Miguel Molinas Dias, 78 anos, também repercutiram junto à Comissão da Verdade Rubens Paiva, em São Paulo, que se dedica a apurar casos de desaparecimentos durante a Ditadura Militar.
Coordenador da comissão, o jornalista Ivan Seixas ressalta o aparecimento de uma prova irrefutável de que Paiva esteve num aparelho do Estado no dia 21 de janeiro de 1971 — um dia depois de ser visto pela última vez, deixando sua casa no Rio.
— É a primeira vez que se tem nas mãos um registro documental de que ele esteve no DOI-Codi — complementa Seixas, que pretende ter acesso ao material em poder da polícia gaúcha.
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