quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Em busca da felicidade

Por Noé Gomes*

Extraído de: http://enquantomeucoracaobater.blogspot.com.br/



Vivemos tempos de caos, uma época em que as instituições estão em xeque. Uma área que reflete tudo isso que afirmei anteriormente é a escola. Esta instituição basilar é como um lago. Ao olharmos para as suas águas podemos ver o reflexo de seu meio ambiente, assim como o espelho que reflete  o que está a sua volta. De certa maneira a escola desempenha esta função reflexiva.

A crise do indíviduo chegou às escolas sejam particulares ou públicas. Os comportamentos estapafurdios que presencio como professor é fruto de uma sociedade que cada vez mais pensa em parecer e ter e muito pouco ou quase nada em ser. Esta situação me causa angéstia e tristeza. Angustio-me ao ver uma geração esvaziada seja de cognição, como de cidadania e valores morais.

Quando Renato Russo cantou "Que país é esse?" fez este questionamento diretamente à classe política brasileira. Não que esta  pergunta tenha perdido a sua validade, sabemos que ao contrério, mas penso que é preciso amplia-la. Na minha opinião esta indagação é muito válida para pessoas que jogam lixo nas ruas, eleitores que se corrompem por uma cesta básica ou ainda por pais que de tão ausentes pensam que a função da escola é educar os seus filhos e o pior que  preocupam-se somente se  seu(sua) filho(a) reprovou, sem se preocupar com o aprendizado de seus genitores.

A raíz do caos social está no indíviduo. Não há como mudar este cenário se os atores estão predispostos a representar uma peça em que prevaleça a vantagem, o consumismo, a futilidade, a sexualidade desrespeitosa, o cinismo e as piores chagas que causam tudo isso mencionado anteriormente. O egoismo e o orgulho. Enquanto tivermos uma visão de vida que privilegia somente o Eu e que promove somente as aparências das máscaras sociais da ostentação, estaremos destinados a sermos seres pequenos e infelizes.

A felicidade real se dá na realização humana, na não superficialidade das relações, no enraízamento da família e sem ser moralista é necessário termos uma postura respeitosa para conosco e aos que nos cercam. O que esta juventude precisa é de atenção, que está na reprimenda severa, porém carinhosa e firme. É preciso que hajam limites, saber que  o meu espaço termina quando inicia do outro. 

Para muitos isso que escrevo parece banal, mas infelizmente como professor noto que para muitos alunos falta exatamente tudo isso. Todas essas situações, sentimentos e percepções podem nos minar por dentro, nos corroer e trazer para o nosso intímo o vazio. A ausência interior gera o sentimento de que a felicidade é inalcansável. Já diria Roberto Carlos na música "Todos estão surdos": Desde o começo do mundo/Que o homem sonha com a paz/Ela está dentro dele mesmo/Ele tem a paz e não sabe/É só fechar os olhos e olhar pra dentro de si mesmo" e completaria a felicidade está em nós também.  

O  que precisamos mudar não é ideia de sua existência ou não, mas sim, os caminhos que trilhamos, isto serve evidentemente para todos os segmentos da escola e consequentemente para a sociedade como um todo.
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* Idealizador do Blog Falando de História. Coordenador do GT Falando de História. Secretário do GT Acervos da ANPUH-RS (Gestão 2012-2014). Professor de História da Rede Pública Estadual do Rio Grande do Sul. Membro do Grupo Político Construção Socialista

domingo, 16 de fevereiro de 2014

Nota ao Público do Portal, Blog e Rádio Falando de História

Caros leitores, seguidores, curtidores e ouvintes.
A partir de hoje o Portal e Blog Falando de História serão editados não mais somente por Noé Gomes mas pelo Grupo de Trabalho (GT( Falando de História formado por Jéssica de Lima, Noé Gomes e Rossana Fichman.
Em 2013 a “Ação Falando de História” órgão responsável por estes espaços, foi extinta por diversas razões. Agora em 2014 os seus integrantes reuniram-se em reunião de trabalho neste domingo e instituíram a sua fundação.
Também o grupo propôs a mudança no visual destas plataformas (blog e site) além de rebatizar a Rádio Contraste em Rádio Falando de História, o grupo entendeu que há uma necessidade de integrar a emissora com o GT.  A Rádio Falando de História está no ar com uma programação musical provisória em www.falandodehistoria.com.br/radioweb. Seguindo as mudanças os perfis da antiga Rádio Contraste agora estão renomeadas como Rádio Falando de História. A fan page da Rádio Falando de História pode ser acessada em: https://www.facebook.com/pages/Rádio-Falando-de-História/323054401167956?ref=tn_tnmn e no Twitter em https://twitter.com/rdwebfh
Outra notícia importante: a nova programação da Rádio Falando de História será lançada em 21/02/2014. Com o novo programa Falando de História que será mais uma das inúmeras novas atrações que o GT Falando de História anuncia ao público.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Trovões, ventos e enxurradas: salve a democracia!

Por Noé Gomes*

Fonte da imagem: www.acordabonita.com
Assim como na virada da década de 1950 para 1960, o Brasil vivia tempos de crise política e econômica. Passados 50 anos do Golpe Cívil-Militar. Muita gente tem tido a mesma impressão que a minha que vivemos guardadas as devidas proporções, uma conjuntura nacional muito semelhante. O que vemos é um país que está em efervescência causada principalmente por dois motivos: um crescimento artificial da economia e social além de uma deformidade política. Vimos um governo que implementou políticas populescas que não resolveram os problemas reais. O Brasil é um país com uma enorme capacidade econômica, com desperdiço de dinheiro público  e um Estado Nacional que descumpre a lei. Um país que não aguenta mais o caos da inflação, da educação, segurança e saúde. 
E investimentos de uma copa que nos deixará diversos elefantes brancos, fruto do escárnio da classe política ao povo brasileiro.
Desde o ano passado, as ondas de manifestações que ao contrário do que a mídia do centro do país apregoa, iniciaram aqui no Rio Grande do Sul, particularmente em Porto Alegre, e vem ao meu ver mostrando uma  ruptura daquela ideia errônea de que o povo brasileiro é pacifico, brando e que não há reações populares mesmo, que o povo é acomodado por natureza. As manifestações que assolam o país são frutos de um crescimento da vontade da participação popular. Participação que nunca foi de interesse dos poderosos deste país, os mesmos que expulsaram intelectuais como Paulo Freire por exemplo com a implantação da Ditadura na década de 1960.
O que me parece nítido é que há interésses como diria Leonel Brizola em acabar com estas manifestações. Para isso são usadas duas táticas: a infiltração de baderneiros e a supervalorização destes por parte da grande mídia. Quantos são os  travestidos em lutadores pela justiça e ordem social que todos os dias estão incutindo a falsa ideia de que só há quebra-quebra, que jovens ligados a movimentos sociais são bandidos, irresponsáveis e tantos outros adjetivos. 
O grande problema é que a democracia está em xeque versus uma "instabilidade política e social. A ditadura implantada há meio século atrás, teve como pretexto inicial exatamente este tipo de argumento. A morte do cinegrafista da TV Bandeirantes não pode ser o estopim de uma era de repressão e da extinção da liberdade, claro que lamentamos a morte deste profissional mas também refutamos a criminalização das manifestações populares.
Penso que a investigação de quem financia os infiltrados é salutar, não somente  para as próprias manifestações, mas principalmente para a democracia.
E se você não se deu conta. Os mulitares estão quietos. Isso me preocupa, pois sempre as forças armadas neste país desempenharam o papel de salvadores da pátria. Os mesmos que retiraram os nossos direitos com o apoio de uma elite retrógrada. Evidentemente que não estou afirmando que todos os militares apoiaram a desapropriação da democracia. Houveram homens como Teixeira Lott e tantos outros militares que janais compactuaram com a ausência das nossas liberdades.
Os trovões dos falsos moralistas não podem prenunciar os ventos da intolerância nem mesmo a enxurrada do autoritarismo e a crescente espoliação do povo brasileiro em nome de uma segurança nacional.
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* Professor e historiador.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Em entrevista, Peter Burke comenta a função do historiador no século XXI

Poliglota e italianista de vocação itinerante, Peter Burke é um dos historiadores mais renomados do mundo, doutor Honoris Causa pelas Universidades de Lund, Copenhague e Bucareste. Mesmo assim transmite ser uma pessoa simples, amena e próxima. Sua produção científica inclui mais de 23 livros, entre os quais se ressaltam importantes trabalhos sobre a Idade Moderna e o Renascimento, e pesquisas sobre teoria e metodologia da história cultural. Um entusiasta ilustrado que evita repetir paisagens e procura levar suas ideias a todos os lugares possíveis. Este foi um dos motivos que o trouxe ao Brasil, país de nascimento de sua esposa, a também historiadora Maria Lucia Pallares-Burke. Pausado e sorridente, preferiu conversar em português.
Peter Burke (Foto: Globo/Juan Crisafulli)
Peter Burke contou quando começou seu interesse por conhecer diferentes línguas
(Foto: Globo/Juan Crisafulli)
Globo Universidade – Quem é Peter Burke? Como foi sua formação intelectual?
Peter Burke – Eu estudei em um colégio de jesuítas (St John's) e depois fui para Oxford para continuar com meus estudos em História. Lá, meu mestre principal foi Hugh Trevor-Roper. Naquela época, ele era Reader Professor. Sem dúvida, uma figura muito controversa, sobretudo quando falava de Hitler. Mas nós nunca falamos sobre esse tema. Nunca falamos sobre Hitler. As nossas conversas sempre foram sobre a história dos séculos XVI e XVII. Antes de acabar meu doutorado, decidi ir para a Escola de Estudos Europeus da Universidade de Sussex, como Assistant Lecturer. Essa mudança foi super interessante para mim porque deixei de trabalhar na universidade mais antiga da Inglaterra, Oxford, para trabalhar na mais nova. Uma experiência que foi muito rica e que, depois de 16 anos, se tornou menos interessante. Foi aí que decidi ir para Cambridge, onde fiquei durante muito tempo e, ainda estou, apesar de ser aposentado. Atualmente, moro nesta cidade e continuo fazendo pesquisa na mesma faculdade. De vez em quando, dou seminários também.

GU – Quando começou seu interesse por conhecer diferentes línguas, diferentes estilos de vida, diferentes mentalidades?
PB – Meu interesse pelas diferentes línguas começou muito cedo porque meu pai era tradutor. Então, em casa, eu tinha contato com várias línguas, francês e alemão sobretudo. Mas sempre que me perguntam pelos meus interesses, eu sugiro conversar com o meu psicanalista. O único problema é que eu não tenho psicanalista (risos).

GU – Sua passagem pelo exército teve alguma influência?
PB – Quando era jovem, me enviaram para Singapura como membro do Royal Corps of Signals, para um regimento de pessoas locais com muitos malaios, índios e chineses.  Só me dei conta desta influência anos depois. Além disso, fiz Antropologia sem saber, sem perceber. É que estive submerso em um ambiente muito diferente ao meu durante mais de um ano, observando tudo e até escrevendo notas de campo num caderno.

GU – Que pessoas têm sido suas companheiras intelectuais ao longo do caminho?
PB – Três, sobretudo porque colaborei muitas vezes com eles. Infelizmente, todos os três faleceram muito cedo. Em primeiro lugar, Ralf Samuel, que foi um dos fundadores do History Workshop, um movimento que estimulava o desenvolvimento da história from bellow. Depois, devo mencionar Bob Scribner, que foi meu colega em Cambridge. Juntos, criamos dois cursos: um sobre Antropologia Histórica e outro sobre História e Imagem. E finalmente, Roy Porter, o mais jovem de todos e com quem colaborei em vários volumes sobre História Social da Língua, entre muitas outras coisas.

GU – Quando e como você abraça as ideias da Escola dos Anais?
PB – Comecei a ler a produção científica de Fernand Braudel quando era aluno de graduação, mas foi na época em que fiz pós-graduação que fiquei seduzido pelas ideias da Escola dos Anais. Naquele tempo, por sorte, tive muitas conversas com um grande amigo, um equatoriano chamado Juan Maiguashca que tinha estudado em Paris com Pierre Chaunnu. Falando com Juan, comecei a conhecer mais profundamente as propostas da Escola dos Anais. Em nossas conversas, sempre debatíamos sobre o estilo francês de fazer história. Juan é ainda meu amigo. Recentemente, fui a Quito ministrar um curso sobre historiografia com ele. Algo muito interessante quando se faz pela primeira vez, depois de 50 anos de amizade.

GU – Qual é o legado mais importante dessa Escola de pensamentos?
PB – A ideia de história total. A ideia da história do mundo todo. A ideia de história de todo tipo de atividade humana. Sou um entusiasta do legado da Escola dos Anais, basicamente pelo estudo da história a partir do conceito da longa duração, que nos permite observar nossa localização dentro dos processos sociais. Embora deva ressaltar que, aqui no Brasil, Gilberto Freire, de forma independente, já tinha praticado anteriormente esse tipo de abordagem, mas com um toque sensual.
 

O historiador ministrou uma palestra no III Conitec (Foto: Globo/Juan Crisafulli)O historiador ministrou uma palestra no III Conitec (Foto: Globo/Juan Crisafulli)
GU – Como se deve ler sua obra? Você mudou de ideia do que propôs em suas primeiras publicações?
PB – Acho que tenho muitas ideias novas, mas não abandono as velhas.

GU – Como os processos globalizantes estão mudando a história escrita? Você acha que estamos caminhando na direção de uma história sob medida?
PB – Estão acontecendo grandes mudanças nos últimos 40 ou 50 anos. Agora, existe mais interesse por escrever uma história global. Mas é sempre assim: os problemas do presente sempre afetam o olhar do passado. 

GU – Qual é a função do historiador no século XXI?
PB – A mesma de sempre: ajudar as pessoas a se colocarem dentro da história, porque estamos vivendo a história em cada momento.

GU – Você está casado com uma historiadora brasileira. Acompanha o momento político e social do país?
PB – De longe. A situação sócio-política brasileira não é fácil de compreender e muito menos para um inglês. Estou acostumado com o sistema de dois ou três partidos políticos (risos). Aqui tem tantos que, às vezes, tenho a sensação de ficar perdido (risos).

GU – Como você acha que será escrita a história da atualidade brasileira?
PB – Não penso que será uma questão muito complexa, embora escrever a história sempre represente um desafio. O importante é conseguir enxergar os fatos com olhos de historiador. Mas esta é uma recomendação válida para pesquisadores e estudantes de qualquer país, sejam da Inglaterra ou do Brasil.

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Para pensar



Sinto vergonha de mim - Poema erroneamente atribuído a Ruy Barbosa recebe correção de autoria na declamação Rolando Boldrin.