Em entrevista ao Site [grifo meu] Café História, a historiadora Mônica Grin fala de seu recém-lançado livro sobre a questão “racial” no Brasil e fornece importantes chaves de entendimento sobre este importante tema contemporâneo
Neste mês de novembro, a seção de entrevistas do Café História, o "Conversa Cappuccino", conversou com a historiadora Mônica Grin, que acaba de lançar seu livro: "Raça" - Debate Público no Brasil, publicado pela Editora Mauad X e pela FAPERJ. Nesta entrevista, a autora falou sobre como surgiu a idéia do livro, deu sua opinião sobre as polêmicas ações afirmativas e comentou sobre o multiculturalismo. Não deixe de conferir e de deixar seu comentário. Suas idéias são valiosas para o desenvolvimento deste tão importante tema.
Mônica Grin é professora no Departamento de História e no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordena o Núcleo Federal Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ e é autora de artigos e livros na área de estudos judaicos contemporâneos e de relações raciais.
CAFÉ HISTÓRIA - Professora, antes de mais nada, muito obrigado por aceitar esta entrevista do Café História. Entrando já em nossa primeira pergunta, a senhora acaba de lançar o livro “Raças” – Debate Público no Brasil. Por que este tema e porque agora?
MÔNICA GRIN - Esse tema é resultado de uma década de reflexão, quando finalizei minha pesquisa de doutorado e constatava já em 2000 a emergência de uma nova modalidade de tratamento de emergência do tema racial no Brasil: a “raça” se insinuando não mais como categoria biológica, como no passado, mas como sujeito de direitos na república brasileira. Esse tema é recuperado agora, porque entre o fim da minha tese (em 2000) e hoje, pode-se depreender uma perspectiva histórica que reforça a minha hipótese, de dez anos atrás, de que estaríamos diante de um processo de racialização em curso no Brasil. O presente livro é uma evidência de como esse processo pode ser observado hoje em vários contextos: desde juízos formulados pela opinião pública, passando por políticas públicas (adoção de cotas raciais), até debates intelectuais.
CAFÉ HISTÓRIA - Em sua opinião, como a historiografia brasileira abordou até agora a questão da raça, no Brasil ? Trata-se de uma questão já bastante analisada ou que ainda necessita de novos olhares?
MÔNICA GRIN - “Raça”, da perspectiva da historiografia, é sempre tratada como uma categoria classificatória já presente no Brasil desde a escravidão. Depois ela foi objeto de criticas à república brasileira que, através do racismo e das raciologias, teria privilegiado o imigrante em detrimento do negro, transformando o negro em um sub-cidadão, ou “quase-cidadão”. Há também os registros nos quais a “raça” dilui-se sob o signo do mito da democracia racial, que ora é objeto de rigorosa critica, especialmente criticas dirigidas a Freyre e à sua versão “condescendente” do racismo no Brasil, ora é objeto de celebração, como expressão de uma cultura racial que se fundaria na miscigenação, na tolerância e na harmonia raciais. O maior problema são os excessos de um lado e de outro. Essa questão possui hoje um novo estatuto e devemos pensá-la como uma questão que se afirma politicamente, através da luta do movimento negro de inspiração norte-americana. Trata-se de compreender hoje a forma da luta antirracista como uma luta não de eliminação da “raça”, mas como uma luta de promoção da “raça”. Hoje debate-se leis que tendem a promover a “raça”, como a lei das cotas raciais e a lei do Estatuto da Igualdade Racial. Portanto, essa questão merece novos olhares, especialmente vinda da pesquisa histórica.
CAFÉ HISTÓRIA - Estamos chegando ao fim da Era Lula (2003-2010). Durante este período houve mudanças no debate público no Brasil sobre a questão racial? Como este debate se diferencia, por exemplo, daquele ocorrido nos Governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)?
MÔNICA GRIN - No governo Lula o debate sobre “raça” em geral e sobre a “raça” como sujeito de direitos, ganhou principalmente uma versão institucional. Desde 2003 o governo Lula conta com uma Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (SEPPIR) que promove sistematicamente políticas focais ou particularistas dirigidas especialmente aos negros. A institucionalização da questão racial é parte do processo de racialização que venho identificando no Brasil há uma década. O governo FHC iniciou, no entanto, as primeiras articulações de projetos de políticas públicas dirigidas especificamente para os negros. Foi no governo FHC que essa história teve inicio, como questão política da República, e que os compromissos com o movimento negro, sobretudo a partir de Durban, em 2001, iniciam-se.
CAFÉ HISTÓRIA - Há algum tempo, a comunidade científica desconstruiu a falsa idéia de que a humanidade é formada por diferentes raças. Como podemos explicar a sobrevivência desta idéia não apenas no senso comum, mas também dentro de movimentos sociais, setores intelectuais e até mesmo em espaços acadêmicos?
MÔNICA GRIN - É espantoso mesmo! O que se diz é que não se trata mais daquela raça biológica, já condenada pela ciência. Trata-se de transformar a “raça” em uma categoria política cuja eficácia na luta contra o racismo seria indiscutível. É como se a promoção da raça fosse o melhor antídoto para se combater o racismo. Combate-se o racismo através da sua prórpria criatura, a “Raça”. Os exemplos históricos que mostram os estragos que qualquer promoção racial promoveu na Europa com o nazismo, nos EUA com a segregação racial e na África do Sul com o Apartheid, parecem não sensibilizar os intelectuais que defendem políticas públicas racializadas.
CAFÉ HISTÓRIA - No meio intelectual e acadêmico, o debate recente sobre as cotas em universidades públicas gerou manifestos pró e contra a medida. Como você se posiciona diante desta questão?
MÔNICA GRIN - O inconveniente de se tratar essa questão quer de uma perspectiva histórica, quer de uma perspectiva sociológica, é que o tema convida a posicionamentos políticos. Não sou militante de causa alguma, mas posso manifestar o meu desconforto com todas as formas de promoção racial aqui ou em qualquer lugar. Achar que o problema da desigualdade no Brasil necessita de políticas especificas para pessoas de pele mais escura, ou como se prefere, da “raça” negra, é brincar com um tema que historicamente promoveu os maiores genocídios em nome da promoção racial, do orgulho racial e das diferenciações raciais. Se ser contra os genocídios que se promovem ainda hoje em nome do racismo e da intolerância exige ser contra cotas raciais (que é uma forma de promoção racial), então sou contra as cotas raciais.
CAFÉ HISTÓRIA - Em entrevista recente ao jornal OGLOBO, o professor da USP, Demétrio Magnoli, fez duras críticas ao multiculturalismo. Para Magnoli, este tipo de ideologia gera um mosaico de comunidades e reforça políticas discriminatórias e racistas, muitas das quais servem de base para políticas demarcatórias e excludentes, como aquela do governo de Nicolas Sarkozy, na França. Professora, a senhora concorda com esta visão sobre o multiculturalismo?
MÔNICA GRIN - Desde 2000, com a finalização da minha tese de doutorado (que foi sobre multiculturalismo), venho identificando problemas de introdução desse paradigma no Brasil. Tenho salientado que o multiculturalismo em nome do reconhecimento da diferença étnico-racial e em nome da redistribuição com base em reparações históricas por violências cometidas no passado, vêm introduzido no Brasil uma das mais nefastas ideologias raciais: a de que a sociedade brasileira seria dividida basicamente em duas “raças”: a branca e a negra, e que tal divisão é a melhor maneira de identificar qual “raça” deve ser sujeito de direitos no Brasil, com base em direitos de reparação histórica a que governo brasileiro deve aceder. Ademais, o multiculturalismo exibe sua força quando, uma vez disseminado em vários órgãos do governo brasileiro, ou instituições brasileiras, acaba por transformar temas caros à nossa cultura, em objeto de tribunal racial. Parte da obra de Monteiro Lobato (e quantos outros virão) é considerada pelos adeptos do multiculturalismo que hoje estão à serviço do Estado brasileiro, como politicamente incorreta, uma vez que se refere de forma “racista” a sua personagem negra, Tia Anastácia, por exemplo.
CAFÉ HISTÓRIA - África do Sul, Estados Unidos, França. Todos esses países são citados quando ao assunto é a questão racial. No que a discussão racial nestes países de se aproxima ou diferencia da discussão racial travada no Brasil?
MÔNICA GRIN - A experiência pós-apartheid da Africa do Sul e de Ações Afirmativas nos EUA do pós-segregação, são, em geral, associadas aos exemplos ativados por segmentos do movimento negro e da inteligentsia que apóiam a promoção racial no Brasil. No caso da França, aqueles que são adeptos das políticas republicanas universalistas, tendem a olhar para o caso Frances como um caso de resistência republicana aos apelos do multiculturalismo.
CAFÉ HISTÓRIA - Hoje, na internet, há muitos blogs e fóruns de discussão, inclusive em domínios brasileiros, que negam o holocausto nazista, que acusam os judeus de dominar a economia e os meios de comunicação. São discursos frágeis, mas que acabam convencendo muitas pessoas não-especialistas no tema. Como podemos classificar este tipo de discurso? Antissemita? Antisionista? Ambos? O que diferencia hoje essas duas classificações? Devemos nos preocupar com um recrudescimento do antissemitismo?
MÔNICA GRIN - Sou sempre muito crítica em relação aqueles que se apóiam em teses conspiratórias que vê o antissemtismo em todos os lugares e em todos os tempos de uma e da mesma maneira. Hoje o antissemtismo possui outros ingredientes que já não estão fundamentados nas dinâmicas antissemitas de contextos como da guerra e do período pre-guerra. O antissemitismo hoje está mais associado ao anti-sionismo, à crítica as formas como o Estado de Israel lida com os seus “outros” não judeus. Isso não significa negar que na Internet há manifestações racistas e que tal fato atrai os incautos. Sabemos que há no Brasil, no entanto, lei que pode perfeitamente penalizar essas manifestações.
CAFÉ HISTÓRIA - Professora, muito obrigado pela sua atenção. Para encerrar, que referências bibliográficas a senhora recomendaria para os leitores do Café História que desejam se aprofundar no assunto?
Neste mês de novembro, a seção de entrevistas do Café História, o "Conversa Cappuccino", conversou com a historiadora Mônica Grin, que acaba de lançar seu livro: "Raça" - Debate Público no Brasil, publicado pela Editora Mauad X e pela FAPERJ. Nesta entrevista, a autora falou sobre como surgiu a idéia do livro, deu sua opinião sobre as polêmicas ações afirmativas e comentou sobre o multiculturalismo. Não deixe de conferir e de deixar seu comentário. Suas idéias são valiosas para o desenvolvimento deste tão importante tema.
Mônica Grin é professora no Departamento de História e no Programa de Pós-Graduação em História Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Coordena o Núcleo Federal Interdisciplinar de Estudos Judaicos da UFRJ e é autora de artigos e livros na área de estudos judaicos contemporâneos e de relações raciais.
CAFÉ HISTÓRIA - Professora, antes de mais nada, muito obrigado por aceitar esta entrevista do Café História. Entrando já em nossa primeira pergunta, a senhora acaba de lançar o livro “Raças” – Debate Público no Brasil. Por que este tema e porque agora?
MÔNICA GRIN - Esse tema é resultado de uma década de reflexão, quando finalizei minha pesquisa de doutorado e constatava já em 2000 a emergência de uma nova modalidade de tratamento de emergência do tema racial no Brasil: a “raça” se insinuando não mais como categoria biológica, como no passado, mas como sujeito de direitos na república brasileira. Esse tema é recuperado agora, porque entre o fim da minha tese (em 2000) e hoje, pode-se depreender uma perspectiva histórica que reforça a minha hipótese, de dez anos atrás, de que estaríamos diante de um processo de racialização em curso no Brasil. O presente livro é uma evidência de como esse processo pode ser observado hoje em vários contextos: desde juízos formulados pela opinião pública, passando por políticas públicas (adoção de cotas raciais), até debates intelectuais.
CAFÉ HISTÓRIA - Em sua opinião, como a historiografia brasileira abordou até agora a questão da raça, no Brasil ? Trata-se de uma questão já bastante analisada ou que ainda necessita de novos olhares?
MÔNICA GRIN - “Raça”, da perspectiva da historiografia, é sempre tratada como uma categoria classificatória já presente no Brasil desde a escravidão. Depois ela foi objeto de criticas à república brasileira que, através do racismo e das raciologias, teria privilegiado o imigrante em detrimento do negro, transformando o negro em um sub-cidadão, ou “quase-cidadão”. Há também os registros nos quais a “raça” dilui-se sob o signo do mito da democracia racial, que ora é objeto de rigorosa critica, especialmente criticas dirigidas a Freyre e à sua versão “condescendente” do racismo no Brasil, ora é objeto de celebração, como expressão de uma cultura racial que se fundaria na miscigenação, na tolerância e na harmonia raciais. O maior problema são os excessos de um lado e de outro. Essa questão possui hoje um novo estatuto e devemos pensá-la como uma questão que se afirma politicamente, através da luta do movimento negro de inspiração norte-americana. Trata-se de compreender hoje a forma da luta antirracista como uma luta não de eliminação da “raça”, mas como uma luta de promoção da “raça”. Hoje debate-se leis que tendem a promover a “raça”, como a lei das cotas raciais e a lei do Estatuto da Igualdade Racial. Portanto, essa questão merece novos olhares, especialmente vinda da pesquisa histórica.
CAFÉ HISTÓRIA - Estamos chegando ao fim da Era Lula (2003-2010). Durante este período houve mudanças no debate público no Brasil sobre a questão racial? Como este debate se diferencia, por exemplo, daquele ocorrido nos Governos Fernando Henrique Cardoso (1995-2002)?
MÔNICA GRIN - No governo Lula o debate sobre “raça” em geral e sobre a “raça” como sujeito de direitos, ganhou principalmente uma versão institucional. Desde 2003 o governo Lula conta com uma Secretaria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Racial (SEPPIR) que promove sistematicamente políticas focais ou particularistas dirigidas especialmente aos negros. A institucionalização da questão racial é parte do processo de racialização que venho identificando no Brasil há uma década. O governo FHC iniciou, no entanto, as primeiras articulações de projetos de políticas públicas dirigidas especificamente para os negros. Foi no governo FHC que essa história teve inicio, como questão política da República, e que os compromissos com o movimento negro, sobretudo a partir de Durban, em 2001, iniciam-se.
CAFÉ HISTÓRIA - Há algum tempo, a comunidade científica desconstruiu a falsa idéia de que a humanidade é formada por diferentes raças. Como podemos explicar a sobrevivência desta idéia não apenas no senso comum, mas também dentro de movimentos sociais, setores intelectuais e até mesmo em espaços acadêmicos?
MÔNICA GRIN - É espantoso mesmo! O que se diz é que não se trata mais daquela raça biológica, já condenada pela ciência. Trata-se de transformar a “raça” em uma categoria política cuja eficácia na luta contra o racismo seria indiscutível. É como se a promoção da raça fosse o melhor antídoto para se combater o racismo. Combate-se o racismo através da sua prórpria criatura, a “Raça”. Os exemplos históricos que mostram os estragos que qualquer promoção racial promoveu na Europa com o nazismo, nos EUA com a segregação racial e na África do Sul com o Apartheid, parecem não sensibilizar os intelectuais que defendem políticas públicas racializadas.
CAFÉ HISTÓRIA - No meio intelectual e acadêmico, o debate recente sobre as cotas em universidades públicas gerou manifestos pró e contra a medida. Como você se posiciona diante desta questão?
MÔNICA GRIN - O inconveniente de se tratar essa questão quer de uma perspectiva histórica, quer de uma perspectiva sociológica, é que o tema convida a posicionamentos políticos. Não sou militante de causa alguma, mas posso manifestar o meu desconforto com todas as formas de promoção racial aqui ou em qualquer lugar. Achar que o problema da desigualdade no Brasil necessita de políticas especificas para pessoas de pele mais escura, ou como se prefere, da “raça” negra, é brincar com um tema que historicamente promoveu os maiores genocídios em nome da promoção racial, do orgulho racial e das diferenciações raciais. Se ser contra os genocídios que se promovem ainda hoje em nome do racismo e da intolerância exige ser contra cotas raciais (que é uma forma de promoção racial), então sou contra as cotas raciais.
CAFÉ HISTÓRIA - Em entrevista recente ao jornal OGLOBO, o professor da USP, Demétrio Magnoli, fez duras críticas ao multiculturalismo. Para Magnoli, este tipo de ideologia gera um mosaico de comunidades e reforça políticas discriminatórias e racistas, muitas das quais servem de base para políticas demarcatórias e excludentes, como aquela do governo de Nicolas Sarkozy, na França. Professora, a senhora concorda com esta visão sobre o multiculturalismo?
MÔNICA GRIN - Desde 2000, com a finalização da minha tese de doutorado (que foi sobre multiculturalismo), venho identificando problemas de introdução desse paradigma no Brasil. Tenho salientado que o multiculturalismo em nome do reconhecimento da diferença étnico-racial e em nome da redistribuição com base em reparações históricas por violências cometidas no passado, vêm introduzido no Brasil uma das mais nefastas ideologias raciais: a de que a sociedade brasileira seria dividida basicamente em duas “raças”: a branca e a negra, e que tal divisão é a melhor maneira de identificar qual “raça” deve ser sujeito de direitos no Brasil, com base em direitos de reparação histórica a que governo brasileiro deve aceder. Ademais, o multiculturalismo exibe sua força quando, uma vez disseminado em vários órgãos do governo brasileiro, ou instituições brasileiras, acaba por transformar temas caros à nossa cultura, em objeto de tribunal racial. Parte da obra de Monteiro Lobato (e quantos outros virão) é considerada pelos adeptos do multiculturalismo que hoje estão à serviço do Estado brasileiro, como politicamente incorreta, uma vez que se refere de forma “racista” a sua personagem negra, Tia Anastácia, por exemplo.
CAFÉ HISTÓRIA - África do Sul, Estados Unidos, França. Todos esses países são citados quando ao assunto é a questão racial. No que a discussão racial nestes países de se aproxima ou diferencia da discussão racial travada no Brasil?
MÔNICA GRIN - A experiência pós-apartheid da Africa do Sul e de Ações Afirmativas nos EUA do pós-segregação, são, em geral, associadas aos exemplos ativados por segmentos do movimento negro e da inteligentsia que apóiam a promoção racial no Brasil. No caso da França, aqueles que são adeptos das políticas republicanas universalistas, tendem a olhar para o caso Frances como um caso de resistência republicana aos apelos do multiculturalismo.
CAFÉ HISTÓRIA - Hoje, na internet, há muitos blogs e fóruns de discussão, inclusive em domínios brasileiros, que negam o holocausto nazista, que acusam os judeus de dominar a economia e os meios de comunicação. São discursos frágeis, mas que acabam convencendo muitas pessoas não-especialistas no tema. Como podemos classificar este tipo de discurso? Antissemita? Antisionista? Ambos? O que diferencia hoje essas duas classificações? Devemos nos preocupar com um recrudescimento do antissemitismo?
MÔNICA GRIN - Sou sempre muito crítica em relação aqueles que se apóiam em teses conspiratórias que vê o antissemtismo em todos os lugares e em todos os tempos de uma e da mesma maneira. Hoje o antissemtismo possui outros ingredientes que já não estão fundamentados nas dinâmicas antissemitas de contextos como da guerra e do período pre-guerra. O antissemitismo hoje está mais associado ao anti-sionismo, à crítica as formas como o Estado de Israel lida com os seus “outros” não judeus. Isso não significa negar que na Internet há manifestações racistas e que tal fato atrai os incautos. Sabemos que há no Brasil, no entanto, lei que pode perfeitamente penalizar essas manifestações.
CAFÉ HISTÓRIA - Professora, muito obrigado pela sua atenção. Para encerrar, que referências bibliográficas a senhora recomendaria para os leitores do Café História que desejam se aprofundar no assunto?
MÔNICA GRIN - FRY, P. e MAGGIE. Divisões Perigosas; FRY, P. A Persitência da RaçaO Atlantico Negro; MAIO, M. e VENTURA, R. Raça: uma questão; entre outros
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