Por: Juremir Machado da Silva
Fonte da imagem: site Yahoo! |
Ouve-se um urro vindo das ruas. Algo está acontecendo por aí e nada foi previsto nas análises dos especialistas. Algo está acontecendo por aí e não se enquadra no figurino das interpretações políticas acadêmicas. Algo está acontecendo por aí e tem a força de um tsunami, a violência, por vezes, do ressentimento, a alegria, quase sempre, das festas colossais e inesquecíveis, a criatividade dos momentos de ruptura e a persistência, quem sabe, fugaz, mas devastadora, de uma avalanche, de um tornado, de um terremoto, de uma lava subterrânea incontrolável e que encontrou o caminho da superfície, de uma tempestade de verão, uma verão fora de época, no outono, no inverno, que supera os seus limites, inventa novas realidades, semeia poesia, utopia e acende esperanças.
Algo está acontecendo por aí e tem a marca das redes, essas cadeias sociais que até há pouco nem existiam, a marca da democracia direta, aquém e além dos partidos, aquém e além dos poderes constituídos, aquém e além das sombras silenciosas, um rugido, um rastilho de vozes, um clamor, uma indignação contra o velho, contra o falso novo e contra os oportunistas que tentam infiltrar o velho no novo. Algo está acontecendo por aí e se volta contra a sociedade “midíocre”, conservadora, reacionária, moralista e amiga do poder econômico que funciona como sistema de hierarquia social. Algo está acontecendo por aí e pode ser visto, talvez, como mais um sinal da “passagem ao hiperespetacular”, um grito contra a espetacularização da política por meio de uma aceleração, um basta à greve das metamorfoses ancorado no retorno das massas ao palco da vida, as ruas.
Algo está acontecendo por aí e não se trata, como desejam alguns, de uma nostalgia da ditadura, nem de uma confissão de amor ao egoísmo e ao horror econômico do neoliberalismo caduco, tampouco de uma adesão tardia ao “melhor dos mundos” marxista, muito menos de um repúdio aos avanços sociais duramente conquistados pelo Brasil. Algo está acontecendo por aí e não se trata de um diagnóstico de que estamos em nosso pior momento, mas, possivelmente, de que mesmo no melhor temos tanto do pior, esse pior historicamente reproduzido, que chegou a hora de tomar as rédeas e exigir o grande salto sobre o abismo das desigualdades, da hipocrisia, dos conchavos, dos formalismos jurídicos aplicados quando convenientes e da politicagem fétida em nome da governabilidade.
Sim, algo está acontecendo por aqui e estamos no olho do furacão, fazendo história, reinventando o cotidiano, passando o país a limpo, colorindo a política, derrubando clichês, mitos e preconceitos, exigindo um novo jeito de ser, uma postura inédita, um comprometimento nunca antes visto entre nós. Algo está acontecendo por aqui e tem a fúria dos nossos indignados, o hálito dos nossos inconformados, a garra dos nossos jovens inquietos, a “ingenuidade”, que permite o impossível, dos que ainda não se habituaram a calar por excesso de sensatez e de razoabilidade. Algo está acontecendo por aí e, maravilhosamente, esse aí agora é aqui. Algo está acontecendo entre nós a ponto de colocar de joelhos o sistema com seu cortejo de aproveitadores.
Algo está acontecendo por aí e disso nunca esqueceremos.
Texto extraído do Blog de Juremir Machado da Silva. Disponível em: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=4525
Texto extraído do Blog de Juremir Machado da Silva. Disponível em: http://www.correiodopovo.com.br/blogs/juremirmachado/?p=4525
Nenhum comentário:
Postar um comentário