sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Crônica de uma morte anunciada: a sala de aula


Estamos no ano de 2160. Neste ano não existe mais sala de aula . Antigamente dava-se esse nome a reunião forçada de 30. 40 e 50 crianças ou jovens entre quatro paredes, havendo em média um espaço de um metro e meio entre cada um. Esse fato é hoje estudado como se estuda com espanto, as antigas celas onde ficavam os padres nos mosteiros medievais.

Para entender o que era uma sala de aula, são estudados fragmentos arqueológicos relativos às práticas realizadas nesses locais. Impressiona-nos hoje a insensibilidade das pessoas da época que não percebiam ser biologicamente impossível manter a ordem nesses lugares, tendo organismos tão agitados como crianças e jovens; ser fisicamente impossível manter a serenidade em pessoas, com a capacidade de gerar e acumular tanta energia. E nos espantamos mais ainda com o fato de vários locais desse tipo terem conseguido, por métodos misteriosos e desconhecidos, manter tantas crianças e jovens parados, assentados e “atentos” por quatro ou seis horas todos os dias!

Hoje nos perguntamos: o que faziam lá?

Não se sabe ao certo o que faziam nelas. Algumas pesquisas antropológicas teimam em afirmar que eram dadas aulas: longos discursos de especialistas ouvidos passivamente pelas pessoas assentadas. Pesquisas recentes refutam essas teorias. Já foi demonstrado ser impossível a um jovem ficar mais de uma hora ouvindo alguma coisa sem, ter fortes dores no corpo ou compulsão irresistível para andar, correr ou pular. Baseados nessas pesquisas, cientistas políticos defendem a tese de que essas construções de salas eram equipamentos políticos de controle de massas de jovens, objetivando manter a situação de grupos dominantes na época.

De qualquer forma, educadores, de modo geral, concordam que essas estranhas construções podiam servir para vários fins, menos para a educação. Para um aproveitamento de 30% de um discurso, um jovem necessita participar com diálogo pelo menos 30% do tempo desse mesmo discurso. O jovem aprende quando pergunta, critica, refuta, duvida.

Num lugar fechado com mais de 40 pessoas e apenas um discursando, é impossível que esse índice de aprendizagem ocorra. Dessa forma, se o aprendizado era abaixo de 30%, esses lugares poderiam ser qualquer coisa, menos uma sala de educação.

Em outros sítios arqueológicos foram encontrados escombros desse tipo de instituição com mais de 100 salas. Admite-se que havia instituições que possuíam mais de 5 mil jovens reclusos, ao mesmo tempo, num período de cinco horas.

Fragmentos de objetos marcados por símbolos, tidos como forma de comunicação, mostram que ensinavam rudimentos de Filosofia, destacados como como especialidades, denominadas Matemática, Física, Química, entre outras. Especialistas discutem se é possível construir um discurso lógico e inteligível sobre qualquer uma dessas especialistas sem referencia a outras, como fazemos hoje nesse saber que chamamos Filosofia. Parece que no século XIX, os saberes eram isolados, possuindo identidade própria, sem uma referência mútua explicita.
Sabe-se, por exemplo, que os números, o que na época eram denominadas Matemática ou Calculo, eram estudados sem a prática da música. É provado que a música, não era admitida nesses locais com regularidade, pois em pouquíssimas instituições foi encontrado algum fragmento de instrumento musical. 

De qualquer forma, o grande enigma dessas instituições continuava sendo o que ocorria nas salas. Simulações realizadas nos processadores da realidade virtual cruzaram variáveis referentes ao clima (clima médio de uma aglomeração populacional da época, em torno de 30 graus), nível de ruído, energia produzida e dissipada por 40 jovens de 17 anos, variáveis compartimentais, variáveis psicológicas e um ponto de referencia , que seria o adulto responsável pelo discurso.. O resultado visual dessa simulação uma cena em que, no período de uma hora, esse centro de referencia ( o adulto que fazia o discurso) é reconhecido por todos ao mesmo tempo, em média, durante apenas 5 minutos. Nos outros 55 minutos,em média apenas 10% das 40 pessoas reconhecem o adulto como centro de atenção. Os outros 90% dos ouvintes, em média, olham para outras coisas, menos para o adulto. Com o passar das horas o adulto fica cada vez mais esquecido, de tal modo que, na terceira hora, ninguém mais percebe com atenção a sua existência. 

Enfim, a existência de um dispositivo educacional chamado de sala de aula, no século XIX, é um enigma . Da mesma forma o adulto responsável pelo discurso aos jovens, o educador, é um mistério. Muitos dizem que não existia educador na época. Pelos conflitos que a história nos informa, pela desorganização daquelas sociedades, guerras, degradação ecológica e outros fatores de degradação social, torna-se efetivamente difícil demonstrar que havia pessoas exclusivamente dedicadas à educação. Ou, hipótese levantada pelos filósofos sociais, foi exatamente graças a esses profissionais da educação que aquelas sociedades não atingiram um estágio de barbárie. Afirmam que foi graças a eles que a destruição total, que sabemos ter sido possível tecnologicamente naquela época, não ocorreu.

(Volker, 1998) Estamos no ano de 2160. Neste ano não existe mais sala de aula . Antigamente dava-se esse nome a reunião forçada de 30. 40 e 50 crianças ou jovens entre quatro paredes, havendo em média um espaço de um metro e meio entre cada um. Esse fato é hoje estudado como se estuda com espanto, as antigas celas onde ficavam os padres nos mosteiros medievais.

Para entender o que era uma sala de aula, são estudados fragmentos arqueológicos relativos às práticas realizadas nesses locais. Impressiona-nos hoje a insensibilidade das pessoas da época que não percebiam ser biologicamente impossível manter a ordem nesses lugares, tendo organismos tão agitados como crianças e jovens; ser fisicamente impossível manter a serenidade em pessoas, com a capacidade de gerar e acumular tanta energia. E nos espantamos mais ainda com o fato de vários locais desse tipo terem conseguido, por métodos misteriosos e desconhecidos, manter tantas crianças e jovens parados, assentados e “atentos” por quatro ou seis horas todos os dias!

Hoje nos perguntamos: o que faziam lá?

Não se sabe ao certo o que faziam nelas. Algumas pesquisas antropológicas teimam em afirmar que eram dadas aulas: longos discursos de especialistas ouvidos passivamente pelas pessoas assentadas. Pesquisas recentes refutam essas teorias. Já foi demonstrado ser impossível a um jovem ficar mais de uma hora ouvindo alguma coisa sem, ter fortes dores no corpo ou compulsão irresistível para andar, correr ou pular. Baseados nessas pesquisas, cientistas políticos defendem a tese de que essas construções de salas eram equipamentos políticos de controle de massas de jovens, objetivando manter a situação de grupos dominantes na época.

De qualquer forma, educadores, de modo geral, concordam que essas estranhas construções podiam servir para vários fins, menos para a educação. Para um aproveitamento de 30% de um discurso, um jovem necessita participar com diálogo pelo menos 30% do tempo desse mesmo discurso. O jovem aprende quando pergunta, critica, refuta, duvida.

Num lugar fechado com mais de 40 pessoas e apenas um discursando, é impossível que esse índice de aprendizagem ocorra. Dessa forma, se o aprendizado era abaixo de 30%, esses lugares poderiam ser qualquer coisa, menos uma sala de educação.

Em outros sítios arqueológicos foram encontrados escombros desse tipo de instituição com mais de 100 salas. Admite-se que havia instituições que possuíam mais de 5 mil jovens reclusos, ao mesmo tempo, num período de cinco horas.

Fragmentos de objetos marcados por símbolos, tidos como forma de comunicação, mostram que ensinavam rudimentos de Filosofia, destacados como como especialidades, denominadas Matemática, Física, Química, entre outras. Especialistas discutem se é possível construir um discurso lógico e inteligível sobre qualquer uma dessas especialistas sem referencia a outras, como fazemos hoje nesse saber que chamamos Filosofia. Parece que no século XIX, os saberes eram isolados, possuindo identidade própria, sem uma referência mútua explicita.
Sabe-se, por exemplo, que os números, o que na época eram denominadas Matemática ou Calculo, eram estudados sem a prática da música. É provado que a música, não era admitida nesses locais com regularidade, pois em pouquíssimas instituições foi encontrado algum fragmento de instrumento musical. 

De qualquer forma, o grande enigma dessas instituições continuava sendo o que ocorria nas salas. Simulações realizadas nos processadores da realidade virtual cruzaram variáveis referentes ao clima (clima médio de uma aglomeração populacional da época, em torno de 30 graus), nível de ruído, energia produzida e dissipada por 40 jovens de 17 anos, variáveis compartimentais, variáveis psicológicas e um ponto de referencia , que seria o adulto responsável pelo discurso.. O resultado visual dessa simulação uma cena em que, no período de uma hora, esse centro de referencia ( o adulto que fazia o discurso) é reconhecido por todos ao mesmo tempo, em média, durante apenas 5 minutos. Nos outros 55 minutos,em média apenas 10% das 40 pessoas reconhecem o adulto como centro de atenção. Os outros 90% dos ouvintes, em média, olham para outras coisas, menos para o adulto. Com o passar das horas o adulto fica cada vez mais esquecido, de tal modo que, na terceira hora, ninguém mais percebe com atenção a sua existência. 

Enfim, a existência de um dispositivo educacional chamado de sala de aula, no século XIX, é um enigma . Da mesma forma o adulto responsável pelo discurso aos jovens, o educador, é um mistério. Muitos dizem que não existia educador na época. Pelos conflitos que a história nos informa, pela desorganização daquelas sociedades, guerras, degradação ecológica e outros fatores de degradação social, torna-se efetivamente difícil demonstrar que havia pessoas exclusivamente dedicadas à educação. Ou, hipótese levantada pelos filósofos sociais, foi exatamente graças a esses profissionais da educação que aquelas sociedades não atingiram um estágio de barbárie. Afirmam que foi graças a eles que a destruição total, que sabemos ter sido possível tecnologicamente naquela época, não ocorreu.

(Volker, 1998) 

Publicado no Blog Falando de História em 2010. Disponível em: http://falando-historia.blogspot.com.br/2010/04/para-refletir-cronica-de-uma-morte.html

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