Por Alice Melo
No dia em que a Torre Eiffel completava cem anos, Paris homenageou a Dama de Ferro – como é chamada com orgulho pelos franceses – com uma reconstituição histórica de sua festa de inauguração, em 1889. Para quem olhava, uma sensação de volta ao passado podia vir à tona: carruagens, fraques, cartolas e vestidos longos desfilaram no dia 31 pela cidade. A única diferença era que, na época da real inauguração, os elevadores do monumento ainda não estavam prontos e seu idealizador, Gustave Eiffel, teve que subir, um a um, os 1.790 degraus que lhe permitiam ver Paris a seus pés.
Cercados por milhares e milhares de balões, os primeiros 300 visitantes enfrentaram uma fila de uma hora nos elevadores para chegar ao segundo andar e outra, de mais duas, para atingir ao topo, no dia da homenagem. No ano anterior (1988), o mais simbólico dos símbolos franceses tinha sido visitado por quase cinco milhões de pessoas. Um triunfo.
Nem sempre, contudo, tudo foram flores para à Dama de Ferro. Alvo de admiração hoje, a torre teve que enfrentar uma maré de indignação maior na época em que foi construída. Enquanto Paris projetava e erguia o colosso de mais de 300 metros para celebrar os primeiros cem anos da Revolução Francesa (1789), a cidade protestava em pé de guerra. Um memorial assinado por 70 intelectuais denunciava a “profanação contra Paris” e pedia a “morte do monstro”.
De nada adiantavam as tímidas tentativas do pai do projeto, Gustave Eiffel, para fingir que ela seria de grande utilidade como “ponto de observação para a astronomia e a meteorologia”. Ninguém se importava com essas explicações. Morte ao monstro que beberia 50 toneladas de tinta, engoliria 7,3 mil toneladas de aço e consumiria 2 anos, 2 meses e 5 dias de trabalho de 200 operários, sentenciavam os opositores. Foi preciso que se passassem dez anos para que a primeira opinião simpática ocorresse. “Ela é uma renda gótica em ferro”, disse Mensieur Gauguin, afirmando que a pirâmide era um novo estilo de decoração. Daí em diante, o monstro passou a ganhar a simpatia de artista e intelectuais. Com o movimento surrealista, a rejeitada Dama de Ferro virou símbolo sexual: Man Ray representou-a entre as pernas de uma mulher.
De sexual, o símbolo virou político. Na Primeira Guerra ela ostentava faixas aclamando a vitória dos Aliados e na Segunda, serviu de palco para que Hitler e seu Estado-Maior fossem fotografados. Em 1944, a Dama foi parar nos braços do General De Gaulle.
No ano de seu centenário, assim como hoje, a torre estava em flâmulas, vidros de perfume, lenços de seda, lápis e canetas. Estava nos cem mil chaveiros comprados pelos turistas a cada ano e em mais de um milhão de cartões-postais.
Fonte: Blog Hoje na História - CPODOC Jornal do Brasil
Disponível em: http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=20311
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