quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Dúvidas, incertezas e ausências de respostas

Por Noé Gomes*

Prezados leitores,

Estive pensando muito sobre a publicação deste texto. De um lado, as reticências de fazer uma fala que poderia ser entendida como agressiva, ou que pode ser mal-entendida. Mas se eu não postar este texto, estarei talvez cometendo o erro da omissão. 

Na condição de professor, de quem fez o seu juramento  como licenciado não tem como eu não usar deste espaço pra manifestar o sentimento de angustia que assim como eu,  uma coletividade de pessoas que não sabem  o que vai acontecer neste ano letivo. Ainda em janeiro, falando com um vice-diretor de uma escola de Canoas, ele me disse: "Eu não sei sinceramente o que vai acontecer neste ano letivo!"

Esta é a fala de uma coletividade! Em novembro de 2011, na sede da FENAC em Novo Hamburgo, houve uma reunião organizada pela 2ª Coordenadoria Regional de Educação (2ª CRE),  com o intuito de esclarecer dúvidas sobre o chamado "Ensino Politécnico" (proposta de reformulação do Ensino Médio, proposta pelo Governo do RS), mas para espanto de todos os presentes foram expostas perguntas que foram formuladas em encontros anteriores nos municípios que compõem a região, mas respostas: nenhuma que fosse realmente esclarecedora e satisfatória! Posteriormente houve um encontro estadual sobre a proposta em Porto Alegre, onde não estive presente. 

Nós professores, não tememos reformulações, pensamos que é necessário que ocorram mudanças, mas o meu sentimento é que a proposta do Governo está sendo implantada de forma autoritária e atropelada. Por mais que a SEDUC (Secretaria de Educação do RS) negue isto, o fato é que não há uma clara e nítida definição por parte do proponente do projeto. Imagine que o professor chega em sala de aula e propõe uma atividade, porém a qualquer questionamento dos alunos, o mesmo não responde e desvia o assunto. "Que parecer será dado sobre este docente?" 

Diante deste cenário, encontramos no site da SEDUC, algumas perguntas com respostas. Destaco a terceira pergunta, onde  há uma definição do que é Ensino Médio Politécnico:

É o Ensino Médio que vinculado a realidade social e ao desenvolvimento científico-tecnológico, integra as áreas do conhecimento (linguagens, matemática, ciências da natureza e ciências humanas). Na prática, o estudante terá, além das aulas dos componentes curriculares do Ensino Médio, o desenvolvimento de projetos com atividades práticas e vivências relacionadas com a vida, com o mundo e com o mundo do trabalho. Contudo, isso não implicará na extinção das disciplinas, que serão fortalecidas no diálogo interdisciplinar

Pessoalmente não me desagrada a definição e a tentativa de se trabalhar com projetos, mas pergunto:

a) Como serão estes projetos?

b) E o aluno do noturno que trabalha o dia em turno integral, como poderá desenvolver atividades extra-aulas? Quando sabemos que o noturno, sem atividades já há um índice de evasão?

Estas questões fazem parte de um conjunto de perguntas não respondidas e que não as farei aqui, mas que ficaram sem respostas. 

Mais do que fazer apontamentos e questionamentos pretendo expor com o título deste post "Dúvidas, incertezas e ausências de respostas" a sensação não do novo, mas de algo que está confuso e por isto a angustia, quero sentar, discutir e planejar com bases firmes. Diante de tudo o que está ocorrendo. o medo não é o de mudar, mas sim a maneira de como isto se dará. 

Ainda, reproduzo a última fala final da SEDUC no documento postado em seu site:

16. Se não é uma proposta autoritária, por que as etapas das conferências não são deliberativas?
Não é autoritário porque a proposta não está pronta. Ela será formatada, discutida e aperfeiçoada na prática de cada escola durante o ano de 2012. As etapas não têm caráter deliberativo e não há encaminhamento de votações, pois todas as contribuições e sugestões serão acolhidas, sistematizadas e discutidas na etapa estadual prevista para dezembro de 2011, possibilitando assim que as contribuições resultem na construção de um documento que expresse o protagonismo da comunidade escolar.
As etapas da conferência são espaços de caráter propositivo para contribuições e aprofundamentos, coerentes com o Documento-Base, as Diretrizes Curriculares Nacionais e a LDB.
Tudo está para ser feito. O ano de 2012 será um rico período e, nossas escolas, um privilegiado espaço para, coletivamente, construirmos o caminho na caminhada, com tensionamentos, dúvidas, problematizações, debates e muitos, muitos avanços que garantam a universalização do ensino médio agora, também, um direito básico da cidadania.

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* Professor de História da Rede Pública Estadual  do Rio Grande do Sul, idealizador da Ação Falando de História

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